BC indica correção de rota e novas altas na taxa de juros
Banco Central dá mais ênfase a juros do que a medidas de restrição da oferta de crédito para combater a inflação. Dilma foi avisada de que aperto prolongado será necessário para atingir objetivo perseguido pelo BC no ano que vem.
O Banco Central mudou o discurso adotado para defender sua estratégia de combate à inflação, indicando que voltará a aumentar os juros para conter os preços e fará isso num período de tempo mais prolongado do que se pensava há poucas semanas.
A instituição divulgou ontem a ata em que explica a decisão tomada na semana passada pelo Copom (Comitê de Política Monetária), que na quarta-feira subiu a taxa básica de juros da economia de 11,75% para 12% ao ano.
O documento sugere que o BC dará mais força à taxa de juros como instrumento de combate à inflação, deixando em segundo plano medidas de restrição da oferta de crédito como as adotadas desde o fim do ano passado.
A mudança de tom foi recebida no mercado com alívio e preocupação. Muitos analistas aprovaram a ênfase no uso da taxa de juros, mas alguns temem que o ritmo gradual imprimido pelo BC à subida dos juros seja insuficiente para frear os preços.
Segundo a Folha apurou, a presidente Dilma Rousseff foi avisada pelo BC de que o ciclo de aperto será mais duradouro e que isso é necessário para evitar que a inflação continue muito acima do centro da meta estabelecida pelo governo em 2012.
A meta de inflação fixada para este ano e o próximo é de 4,5%, com uma tolerância de dois pontos percentuais para cima e para baixo. As projeções mais recentes indicam que o IPCA, principal índice de preços do país, deverá atingir 6,3% neste ano.
Na terça-feira, Dilma disse que o governo está “diuturnamente atento às pressões inflacionárias”. Há duas semanas, o presidente do BC, Alexandre Tombini, declarou que o país está “no meio” de um ciclo de aperto monetário, antecipando o tom reforçado ontem pelo Copom.
No Planalto, o entendimento é que novas altas nos juros serão anunciadas até que as projeções para a inflação de 2012 se aproximem de 4,5%. Analistas de mercado apostam que o BC promoverá duas altas consecutivas de 0,25 ponto percentual na taxa Selic nos próximos meses.
O principal sinal de que as medidas de contenção de crédito adotadas nos últimos meses terão peso menor a partir de agora foi a retirada do texto da ata de uma frase da ata da reunião de março que classificava as medidas como “instrumento rápido e potente para conter pressões localizadas de demanda”.
Embora a decisão sobre a taxa de juros na semana passada tenha dividido o Copom, a ata deixa claro que é unânime na diretoria do BC a ideia de que “o ajuste total da taxa básica de juros deve ser, a partir desta reunião, suficientemente prolongado”. “O BC dava a entender que poderíamos sair dessa com um ajuste menor e mais lento, mas a leitura da ata sugere que a empolgação do BC com as medidas macroprudenciais arrefeceu sobremaneira”, disse o economista Luís Otávio de Souza Leal, da consultoria ABC Brasil.
ANÁLISE de Tony Volpon é chefe de pesquisas de mercados emergentes da corretora japonesa Nomura.
Ajustes a conta-gotas deixam economia exposta a choques externos e domésticos.
Na ata da reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) temos a apoteose final da nova filosofia gradualista do Banco Central. Frente a um quadro inflacionário em franca deterioração, tanto em termos da inflação atual como nas próprias projeções para 2012, a maioria do comitê optou por diminuir o ritmo de ajuste da taxa Selic de 0,5 ponto percentual para 0,25 ponto percentual.
É verdade que o BC prometeu que o ajuste será “suficientemente prolongado” para que haja convergência da inflação à meta em 2012.
Mas tal estratégia de ajuste a conta-gotas, mesmo seguida à risca, deixa a economia exposta e vulnerável a choques externos ou inesperado vigor econômico doméstico.
Quais os riscos? Frente ao quadro atual, com a economia sofrendo os efeitos da aceleração da demanda do período pré-eleitoral e um choque de commodities internacional, tentar levar a inflação para a meta ainda neste ano cobraria terrível preço à atividade econômica.
Portanto um gradualismo nos resultados da política monetária é justificável. Mas não se pode confundir gradualismo de resultados com gradualismo na execução da política anti-inflacionária. O nível de ajuste atual será quase que certamente insuficiente se o quadro de alta dos preços das commodities e a queda do dólar continuarem.
E não há, até agora, nenhum movimento para responder de forma preventiva aos efeitos inflacionários do já grande aumento do salário mínimo programado para 2012. Tendo admitido que a inflação fique bem acima da meta pelo segundo ano consecutivo, o BC, por abandonar nesta reunião a regra de ouro do regime de metas- que é aumentar o nível de aperto se a projeção da inflação subir- coloca também a meta de 2012 em risco.
Frente ao ainda forte nível de indexação da economia brasileira, esse é um risco que deve ser dimensionado.
* Folha de São Paulo