BC elevará juros e venderá mais dólar
Diante do pessimismo geral de investidores e empresários com a política econômica do governo Dilma Rousseff, e dos reflexos que essa desconfiança tem provocado na cotação do dólar, o Banco Central (BC) decidiu agir. Para garantir que a alta do dólar não fuja do controle, a autoridade monetária avisou que vai renovar em 2014 o programa de injeção de moeda no mercado, batizado de “ração diária”. Isso, depois de avisar que manterá os juros em alta no início do ano que vem.
O pacote cambial, que, somente em 2013, movimentará US$ 100 bilhões, tem como objetivo conter uma disparada ainda maior da divisa norte-americana. Com isso, pretende-se dar um sossego à inflação, tornando produtos importados mais baratos.
Ao manter o programa de venda de dólares, o BC espera reduzir a volatilidade da moeda, que tem sido atribuída aos prognósticos negativos em relação à economia brasileira e à perspectiva de mudança na política monetária dos Estados Unidos. Em pouco mais de três meses, a divisa bateu em R$ 2,45, foi a R$ 2,13 e voltou ontem a R$ 2,359 para a venda, queda de 1,24% (leia texto ao lado).
“A manutenção dessa política de venda de dólares é um reflexo direto do pessimismo com o Brasil”, disse o economista da NGO Corretora, Sidnei Nehme. “Se os resultados da economia fossem bons, não haveria necessidade de o BC reforçar a proteção a quem opera com o dólar, apesar do ajuste dos juros nos EUA”, frisou.
Ajustes
O arsenal de medidas envolve uma dose extra de juros, ainda que em de forma mais branda. Oito meses após ter iniciado o ciclo de aperto monetário, tornando o custo do dinheiro mais alto para empresas e famílias, o BC sinalizou, também ontem ,que a alta da taxa de Selic continuará, mas está próxima do fim.
Em um documento de 20 páginas, o Comitê de Política Monetária (Copom) explicou por que decidiu elevar, na semana passada, a Selic para 10% ao ano, enterrando uma das maiores bandeiras políticas do governo Dilma Rousseff, a de ter levado os juros básicos ao menor patamar histórico,de 7,25%. Iniciado em abril, o ajuste já totaliza um aperto de 2,75 pontos percentuais.
Para analistas, o documento dá pistas de que o BC considera o ajuste quase suficiente para frear a escalada da inflação. “O Copom sinalizou a possibilidade da dar fim ao ciclo, mas não disse quando. A nossa leitura é que, se não está preocupado em trazer a inflação para o centro da meta, de 4,5%, entende que, pelo menos, não será preciso elevar muito mais os juros para ficar próximo do teto, de 6,5%”, disse o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa.
O mercado, de modo geral, aposta em moderação no ritmo de altas. Desde maio, a Selic é elevada sempre em 0,5 ponto percentual. A maior parte dos economistas acredita que o ajuste feito na próxima reunião do Copom, marcada para 14 e 15 de janeiro, será metade disso. “O plano de voo é esse, levar a Selic a 10,25% ao ano”, disse a economista da Tendências Alessandra Ribeiro.
Ela pondera, no entanto, que a tática pode mudar caso haja uma disparada do dólar. Isso levaria a uma pressão de preços sobre produtos importados que provocaria uma nova alta da inflação. “Acho que o BC não quer se comprometer com uma estratégia agora. Faz isso por conta do câmbio, uma incógnita grande”, disse Alessandra.
“Em algum momento em 2014 os Estados Unidos vão mudar sua política de juros. Quando isso acontecer, será inevitável que haja capitais batendo em retirada do Brasil e de outros países emergentes. Daí não tem jeito. É mais pressão sobre o câmbio”, explicou o economista Gilberto Braga, professor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec).
A ata do Copom enfatiza ainda a preocupação com uma escalada do dólar e seus efeitos sobre a inflação. Num trecho, o documento diz que “a depreciação e a volatilidade da taxa de câmbio ensejam uma natural e esperada correção de preços relativos”. Não à toa, o presidente do BC, Alexandre Tombini, apressou-se em antecipar a manutenção do programa de venda de dólares, mas “com alguns ajustes”.
Pela chamada “ração diária ao mercado” há, de segunda a quinta-feira, leilões de swaps de até US$ 500 milhões. Nessas operações, o BC vai ao mercado e realiza uma venda em data futura. Com isso, trava o preço da moeda já no momento de venda, fazendo com que bancos e corretoras acompanhem a cotação.
Nas sextas-feiras, a autoridade monetária realiza leilões de linha, que equivalem a uma venda de moeda com compromisso de recompra, no valor de até US$ 1 bilhão. Ao todo, o BC poderá ofertar US$ 100 bilhões no ano. “Estamos em um período de transição (da economia mundial)”, disse Tombini, ao participar de um almoço em São Paulo com executivos de grandes bancos.
Bomba-relógio
Eleições e a Copa do Mundo contribuem para aumentar a preocupação do BC com a inflação de 2014. Outro problema é o escasso espaço fiscal que haverá para segurar reajustes de preços de passagens, combustíveis e energia. Neste ano, os chamados serviços administrados foram a contribuição positiva para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em 12 meses, esse item de preços acumulou alta de apenas 1% — a menor variação da série histórica iniciada em 1994. No mesmo período, os chamados preços livres (que sofrem pouca interferência do governo) aumentaram 7,37%.
Correio Braziliense