BC atua e reduz alta do dólar no dia
A pressão de alta do dólar continua a dominar o cenário, levando a moeda americana a fechar com valorização de 0,84% em relação ao real, a R$ 2,1660, maior patamar desde 30 de abril de 2009. O contrato de dólar futuro avançava 0,46% para R$ 2,167.
A disparada do dólar, que chegou a ser negociado a R$ 2,1780 na máxima do dia, levou o Banco Central a voltar a atuar no mercado. A autoridade monetária vendeu US$ 1,957 bilhão em contratos de swap cambial tradicional (que equivale a uma venda de dólar no mercado futuro), representando 97,75% dos contratos ofertados. Foram vendidos 31.300 contratos com vencimento em 1º de agosto e que somaram US$ 1,567 bilhão, e 7.800 contratos com vencimento em 2 de setembro, que somaram US$ 390 milhões.
A última vez que o BC atuou no mercado de câmbio foi em 11 de junho, quando vendeu US$ 2,244 bilhões em dois leilões de contratos de swap cambial para os mesmos prazos.
Em entrevista ao Valor na sexta-feira, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, afirmou que utilizará dos instrumentos que dispõe para conter a volatilidade do câmbio, seja com venda no spot, no mercado futuro ou até leilões de linha crédito. “A nossa primeira linha de defesa é o câmbio flutuante. Se houver volatilidade excessiva nó s vamos tirar, se tiver disfunção no mercado nós vamos entrar, vamos tirar os excessos. Nós temos os instrumentos, temos a tecnologia e sabemos fazer”, assinalou.
A reação do mercado a essas declarações foi buscar um novo teto para o câmbio, para testar em que nível o BC voltaria a atuar.
A alta do dólar já começa a trazer preocupações em relação ao repasse para a inflação. Hoje os contratos futuros de juros voltaram a subir após a disparada do dólar.
Apesar do presidente do BC destacar que poderá haver algum repasse da desvalorização do real para a inflação, os investidores já começam a demonstrar preocupação do que isso poderia adicionar à pressão inflacionária. “Boa parte dos insumos agrícolas, componentes petroquímicos e peças utilizadas na indústria é importada, o que faz com que a alta do dólar eleve a projeção para os juros”, afirma João Medeiros, diretor de câmbio da Pioneer Corretora.
O estrategista da corretora Icap, Gabriel Gersztein, lembra que o movimento de alta do dólar é global, e que a desvalorização do preço das commodities pode compensar a valorização do dólar, reduzindo o impacto para a inflação.
A desvalorização do real hoje veio em linha com o movimento de fortalecimento do dólar frente às demais moedas no exterior à espera da reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do banco central dos Estados Unidos (Federal Reserve) na quarta-feira. Os investidores aguardam novas sinalizações sobre quando e em que ritmo o Fed deve começar a reduzir os estímulos monetários em vigor desde novembro de 2008.
O jornal Financial Times destaca em artigo que o presidente dos EUA, Ben Bernanke, poderá sinalizar que a retirada dos estímulos monetários, que somam hoje compras mensais de US$ 85 bilhões, está mais perto, mas o ritmo dependerá dos sinais de recuperação da economia americana. Um desses sinais acompanhado pelo Fed é a taxa de desemprego. A projeção da autoridade monetária dos EUA caiu de 7,75% para 7,4%. A média do número de vagas criadas nos últimos seis meses é de 194 mil comparada com 130 mil nos seis meses que antecederam o anúncio do terceiro programa de afrouxamento monetário (quantitative easing 3), o que reforça as apostas de que a redução dos estímulos pode ter início neste ano.
Lá fora, o dólar ganhava força frente as demais moedas. O Dollar Index, que acompanha o desempenho da divisa americana em relação a uma cesta de moedas, avançava 0,1%. O real, porém, caía mais que as demais moedas emergentes como o peso chileno, peso mexicano e dólar australiano.
Valor Econômico