Bancos preparam terreno para voltar a emprestar para pequenas empresas
Os bancos privados preparam terreno para reaquecer o crédito para micro e pequenas empresas, que está em queda, porém os empréstimos ao nicho devem ganhar força apenas no segundo semestre de 2016, avaliam especialistas ouvidos pelo DCI.
Recentemente, Bradesco e Santander firmaram parceria com o Sebrae para financiar franquias que tenham faturamento de até R$ 3,6 milhões por ano com garantia do Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas (Fampe).
Na primeira etapa deste ano, o banco espanhol também lançou no Brasil uma plataforma global exclusiva para empresas com faturamento até R$ 80 milhões.
O objetivo das instituições com as iniciativas é justamente fomentar esse nicho de mercado, principalmente nas linhas de capital de giro.
Na avaliação de João Augusto Salles, analista de bancos da consultoria Lopes Filho, entretanto, as instituições financeiras – especialmente as privadas – ainda estão muito restritivas com o crédito e, mesmo com a garantia do Fampe, não devem liberar os recursos neste ano.
“Os bancos não irão ofertar crédito com maior risco apenas por conta do contrato [com o Sebrae]. Essas parcerias são alvos de longo prazo. Como têm reservas de capital, eles estão buscando assegurar mercado futuro potencial”, analisou Salles.
Dados do Banco Central apontam que o crédito para pequenas e médias empresas nas instituições financeiras privadas caiu 2,3% em abril, na comparação com mesmo período de 2014. Os financiamentos ao nicho nos bancos particulares vêm de um ciclo de retração que começou em maio do ano passado.
Segundo Miguel Oliveira, diretor de estudos econômicos da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), o colateral do Fampe é importante para as micro e pequenas empresas, que têm mais dificuldade de oferecer garantias nos empréstimos – e por isso considerados mais arriscados e têm o crédito negado com maior frequência.
Ele afirmou, contudo, que o atual momento econômico e político do País, agravado pela turbulência no setor externo, dificulta a liberação de crédito para os pequenos negócios neste ano.
“Para emprestar, principalmente para pequenas empresas, o banco tem que ter um horizonte claro pela frente. Ele não vai fazer um empréstimo de 36 ou 48 meses tiver uma nuvem de incertezas, como agora, que o impeça de ter uma noção de como estará o cenário neste período”, disse.
Restrição bancária
Desde o ano passado, as instituições privadas estão desacelerando – e, em alguns casos, até mesmo reduzindo – o crédito para micro, pequenas e médias empresas.
Dados dos balanços trimestrais dos bancos mostram que o Bradesco teve crescimento de 1,9% na variação anual e retração de 1,4% na variação trimestral na carteira de crédito para PME, que fechou março em R$ 114,9 bilhões.
O Santander, por sua vez, apresentou queda de 0,7% e 0,3%, respectivamente, quando considerado somente os empréstimos bancários. A maior parte do crédito para pequenas do banco espanhol veio do setor de adquirência (cartões) – considerando essa área, o crescimento foi de 7% na variação anual e a carteira chega a R$ 38,4 bilhões.
De acordo com os especialistas, no balanço do segundo trimestre de 2015, que será divulgado hoje pelo Bradesco e Santander, o crédito deve continuar escasso para PME.
“O Santander é mais agressivo nesse nicho, tem mais apetite por risco. Já o Bradesco é mais cauteloso”, avaliou Salles.
Relatórios de expectativa de resultado da Gradual Investimentos apontam que o lucro líquido do Bradesco deve crescer 15,7% na variação anual e do Santander, 12%. Segundo a corretora, contudo, a margem financeira, que representa a “receita” com crédito, deve cair 6,9%% no Santander, na variação trimestral, e retrair 3,7% no Bradesco.
Parcerias
Tanto no convênio do Bradesco, quanto na do Santander, o Sebrae disponibilizou R$ 25 milhões para as instituições financeiras utilizarem como garantia complementar nos empréstimos a micro e pequenas empresas organizadas sob forma de franquia.
Com o montante de colateral, o Bradesco pode oferecer até R$ 300 milhões extras em financiamentos aos pequenos negócios e o Santander, R$ 375 milhões – que se somam aos R$ 15 bilhões de crédito adicional que foram separados na plataforma de pequenas empresas do banco.
“Adquirir crédito ainda é uma questão delicada para o pequeno negócio brasileiro e um dos principais entraves para o seu crescimento, pois ele precisa de capital de giro para compra de equipamentos, reformas, entre outros”, afirma o presidente do Sebrae, Luiz Barretto, na época da parceria com Bradesco.
Uma terceira iniciativa do Santander para aumentar os empréstimos às pequenas empresas foi um acordo com o Banco Europeu de Investimento (BEI) para disponibilizar uma linha de financiamento de cerca de R$ 500 milhões ao nicho, com taxas de juros anuais no mínimo 0,25 ponto percentual inferiores às das linhas tradicionais e com prazos de até 48 meses.
Fampe
Criado há 20 anos, o Fampe ajuda micro e pequenas empresas a conseguir financiamentos, principalmente de capital de giro e investimento fixo, por fornecer uma garantia extra aos bancos e reduzir os riscos das operações com essas firmas. Ele garante até 80% do valor do financiamento e tem a função exclusiva de complementar garantias exigidas por instituições financeiras conveniadas ao Sebrae.
O fundo já garantiu mais de 246 mil operações de crédito, o equivalente a R$ 11 bilhões em financiamentos e R$ 7,96 bilhões em avais do Sebrae.
DCI