Atraso na divulgação do IPCA poderia prejudicar empresas
Especialistas comentam que um atraso ou uma divulgação parcial do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pode afetar operações importantes, como projeções de vendas e ajustamento de preços das empresas. Devido à greve dos servidores da instituição, que se prolonga desde o dia 26 de maio deste ano, algumas pesquisas já foram prejudicadas.
Na semana passada, a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) de maio foi publicada parcialmente, com o resultado de apenas quatro das seis regiões metropolitanas do País contempladas pela amostra. Nas cidades de Salvador e Porto Alegre, a coleta atrasou devido à paralisação dos servidores. A coleta de dados da PME de junho também está desfalcada, assim como a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua em alguns estados.
Outros levantamentos que foram impactados e que estavam previstos para junho foram a Pesquisa Industrial Anual – Empresa 2012, a Pesquisa Industrial Anual – Produto 2012, a Pesquisa Anual da Indústria da Construção 2012; e a Pesquisa Anual de Comércio 2012. No entanto, não houve problema na divulgação da pesquisa sobre a produção industrial, divulgada ontem.
Operações
Para o economista e professor da Fundação Instituto de Administração (FIA), Cláudio Felisoni de Ângelo, caso a divulgação ou a pesquisa do IPCA venha ser impactada diante do cenário de paralisação dos servidores do IBGE, operações importantes de empresas podem ser prejudicadas. “Essa situação compromete o planejamento das operações, algo complicado em um momento em que nós temos um mercado com mais dificuldades do que vimos no ano passado”, diz.
“O IPCA ajuda nas informações de projeção de venda e de crescimento da inadimplência de pessoas. Além de mensurar a renda das famílias, porque as pessoas compram com base na renda real. Na medida em que a inflação cresce, a renda das famílias diminui e, consequentemente, há uma dificuldade maior de comprar, de honrar a operação”, complementa o professor.
Felisoni comenta que, para um empresário, planejar é “absolutamente” fundamental para o fluxo de caixa de entradas e saídas e para os planos de investimentos das companhias. “O IPCA é um indicador sintético da inflação para que o empresário possa ajustar os seus preços”, afirma. Ele pontua que o Brasil já tem, normalmente, uma dificuldade grande para obter dados como o IPCA.
O professor da graduação de Ciências Contábeis da Faculdade Santa Marcelina (FASM), explica que o IPCA influencia, indiretamente, outros indicadores, como os de emprego e desemprego. “Se há uma taxa de desemprego alta significa que houve menos consumos e havendo menos consumo, isso afeta os indicadores econômicos”, diz Gonçalves.
O professor da FASM comenta que os dados fornecidos pelo IBGE, no geral, são importantes para o empresariado se organizar. “Se ele [o empresariado] não vê perspectiva de ter acesso a esses dados, ou tê-los de forma incompletas, isso provoca desconfiança”, afirma.
Para ele, algumas das alternativas diante de um cenário de prejuízo da divulgação do IPCA, é a utilização de outros indicadores de preços, como o Índice Geral de Preços (IGP) e o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M). “Esses indicadores levam em conta o consumo da população com relação à cesta básica, e acabam servindo como comparativos do IPCA”, diz o Gonçalves.
O professor da FASM também observa que os levantamentos de indicadores realizados por sindicatos, por exemplo, são importantes por servirem como um instrumento de crítica aos levantamentos oficiais do governo.
Greve
Algumas das reivindicações dos servidores em greve do IBGE são a realização de concurso público para mais de quatro mil vagas, além de valorização salarial ao patamar de outros órgãos do círculo de gestão, como Banco Central (BC) e Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Os servidores também pedem autonomia técnica e que o instituto seja tratado como órgão de Estado e não de governo.
Ontem, o sindicato dos servidores do IBGE, o ASSIBGE-SN, comunicou, em nota, que o Superior Tribunal de Justiça (STJ) deu um prazo de cinco dias à direção do instituto para informar se a greve de funcionários é “forte ou fraca”. A ministra do STJ, Assusete Magalhães, fez o despacho na última terça-feira. Ela questiona a alegação da direção do IBGE de que o sindicato está descumprindo a liminar que exige ao menos 70% dos servidores em atividade em cada uma das unidades do órgão, ao mesmo tempo em que afirma à imprensa que a paralisação está enfraquecida.
No entanto, segundo o sindicato, o despacho só será publicado em 1º de agosto, quando o Judiciário retorna do recesso.
DCI SP