A excelência em terceirização
Apesar dos entraves burocráticos e do gargalo de infraestrutura que desafiam o crescimento da oferta de serviços prestados por terceirizados no mundo, países da América Latina têm conseguido driblar esses problemas e se destacado nesse mercado.
Pelo menos oito deles (México, Chile, Brasil, Costa Rica, Argentina, Panamá, Uruguai e Colômbia) aparecem na lista dos 50 melhores fornecedores em Terceirização do Processo de Negócios (Business Process Outsourcing, da sigla em inglês BPO) e em Terceirização da Tecnologia da Informação (Information Technology Outsourcing, da sigla ITO), de acordo com uma pesquisa realizada pela KPMG.
O Brasil lidera o mercado de BPO na América do Sul. Esse resultado pode ser atribuído ao comportamento da nossa economia (apesar de fase atual estagnada), estabilidade política, além do fato de o país receber as maiores empresas de TI do mundo atraídas pela oferta de infraestrutura de telecomunicações e disponibilidade de mão de obra especializada.
Vale lembrar que a qualificação profissional é uma exigência cada vez maior do mercado, especialmente, para serviços de BPO. Para driblar a dificuldade, as empresas estão investindo em parcerias com universidades.
O objetivo é fornecer às instituições de ensino acesso à tecnologia e software. Em troca, o mercado recebe pessoal treinado e preparado para enfrentar o dia a dia.
O resultado dessa parceria já apresenta ganhos para o setor de TI brasileiro, possibilitando assim o desenvolvimento da capacidade de criar soluções eficazes e inovadoras para uma variedade de indústrias.
Isso fez do país um dos mercados de tecnologia mais bem preparados, mais versáteis e sofisticados do mundo, um dos motivos que influenciam as empresas a buscarem serviços de terceirização aqui.
Outra razão que leva as empresas fornecedoras de BPO e ITO a se desenvolverem no país é a necessidade de atender ao mercado local e às operações de seus clientes de forma global.
A maior demanda pelos serviços brasileiros vem dos Estados Unidos, seguidos por países da América Latina e Europa.
Precisamos destacar também que, com a crise financeira de 2008, a América Latina surgiu como uma importante alternativa aos centros de terceirização da Índia, China e Malásia e vem ganhando força desde então.
E neste cenário, o Brasil passou de um país chamado de terceiro mundo para se tornar uma potência econômica e polo mundial para serviços de outsourcing, impulsionado por fatores como a proximidade territorial e fuso horário semelhante ao dos Estados Unidos, a afinidade cultural, o crescimento econômico com uma série de fusões e aquisições de empresas e, consequentemente, a consolidação e padronização de sistemas e processos.
Embora o panorama seja favorável, o Brasil enfrenta alguns entraves para o desenvolvimento do mercado de terceirização, entre eles, o alto custo de mão de obra,- além da legislação e estrutura tributária complexas, sendo considerado o mercado mais caro da América Latina para se fazer negócios.
Ainda que o governo brasileiro ofereça vários incentivos para as empresas de TI, as taxas de impostos no Brasil são consideradas altas, podendo tornar o país menos favorável para investimentos em relação aos seus vizinhos.
Internamente, podemos citar as cidades como São Paulo e Rio de Janeiro que oferecem esses benefícios para empresas de TI instalarem seus escritórios, ainda assim, podem perder mercado para municípios menores como Uberlândia e Porto Alegre, que cobram tributos menores. Não podemos deixar de mencionar o potencial de crescimento nas cidades do Norte e Nordeste, como Salvador e Manaus, que possuem força de trabalho em grande parte inexplorada.
Para fazer frente à concorrência na indústria de terceirização, as empresas brasileiras ainda têm um longo e promissor caminho a percorrer. Maior flexibilidade, inovação e serviços de valor agregado podem ser as peças chaves para elas se manterem competitivas nesse mercado tão disputado.
Fernando Aguirre – Consultor da KPMG Brasil