A eterna preocupação com a reunião do Copom
Infelizmente, os juros devem continuar hoje a sua trajetória de alta. O anúncio de corte de gastos de R$ 50 bilhões não foi suficiente para manter a estabilidade, por pelo menos mais 45 dias, na taxa básica. A aposta corrente, segundo pesquisa feita pelo Banco Central (BC) junto a instituições financeiras, é de que a Selic aumente meio ponto percentual, passando para 11,75%. Mas os mais pessimistas falam em uma alta de até 0,75 ponto percentual. O impacto imediato pode ser pequeno para os bolsos (veja simulação ao lado), mas o reflexo no médio prazo é grande.
O combate à inflação vai exigir muito mais do governo. O superaquecimento da economia – que deve ter crescido algo em torno de 8% no ano passado – foi o primeiro responsável pela alta nos preços: mais gente consumindo e as fábricas não conseguindo atender a essa demanda crescente. Mas, agora, há um problema maior para o governo: matérias-primas essenciais estão aumentando mundialmente: é o caso do minério de ferro, algodão, petróleo, cana-de-açúcar, soja…
Mesmo com juros mais altos, os preços devem continuar subindo com força. Hoje, a projeção para a inflação é de 5,8%, bem acima da meta do governo, que é de 4,5%. Mais dinheiro vai ser deixado no caixa dos supermercados. E, por outro lado, o consumidor vai se sentir menos inclinado a comprar outros bens porque estão mais caros ou por causa da menor disponibilidade de dinheiro na praça para financiar a compra. O resultado: as fábricas vão produzir menos, as empresas vão reduzir investimentos, o número de novas oportunidades de trabalho, e por aí vai. É o resultado da preocupação só com o curto prazo.
Se o governo fosse mais criterioso com os gastos públicos, e as reformas tributária e trabalhista já tivessem saído há tempo poderíamos crescer de uma forma sustentável – 4% a 5% ao ano –, sem ter maiores problemas com a inflação. E sem muita preocupação com a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).
* da coluna Livre Mercado, no jornal A Notícia