Sobre meninos e lobos
Carreira e ser executivo tornaram-se um mantra.
Desde os jovens que fazem cursos técnicos, passando, sem dúvida, por todos os administradores, contabilistas, economistas, engenheiros, psicólogos e demais acadêmicos, pós-graduandos ou especialistas, todos olham para suas formações como quem olha para uma cama elástica. Em que altura se consegue chegar com esta base? E lá se vão confiantes de que o fazer, agitar, relacionar-se com tudo e com todos, ser descolado ou ter mil amigos no Orkut, outro tanto de seguidores no Twitter, ou um vídeo no YouTube garantem um lugar ao sol de uma carreira brilhante.
Lobos, mais ou menos qualificados, mais ou menos cientes do mundo a sua volta, mais ou menos crentes de que a vida é uma sequência de oportunidades que se apresentarão naturalmente, olham para seus umbigos e para o amanhã de forma ingênua. E são absolutamente alienados. Mas alguns têm sorte. Estavam no lugar certo, na hora certa, e por terem dado sorte acreditam que sabem e mergulham num ciclo mágico de oportunismo.
Há outros tantos jovens – melhor ser mais realista – há alguns poucos jovens que olham para suas formações e decidem que aqui querem entender um tanto mais; que este assunto é importante e que pesquisar não é usar o ctrl c / ctrl v, mas se debruçar e compreender e que neste processo ler é fundamental, escutar é mais do que ouvir, dedicar-se faz suar e que a balada pode ser parte do processo, mas é só uma pausa. E que amanhã tudo de novo exigirá empenho e comprometimento.
Alguém aí que me lê está pensando “CDFs!” Enganam-se! Orkut, blogs, Twitter e mais toda a parafernália tecnológica também fazem parte da vida deste segundo grupo. A diferença é que esta turma aqui sabe como funciona. E sabe o que acontece no mundo e como a macroeconomia impacta o custo de vida aqui e agora. Tem conhecimento e por isto suas opiniões não são palpites, são a tradução de ideias elaboradas e mesmo quando suas ideias são boas se dispõem a revisá-las e crescem! São meninos.
Bom, pensam os espertos, ser lobo é muito melhor! São fortes, ousados, seguem um líder, mas podem derrubá-lo – é só lutar para isto. Metem medo! São livres!? Bom, penso eu, ser menino é muito melhor! Sou senhor de mim mesmo, faço escolhas, aprendo e transformo não só minha vida e minhas expectativas, mas também o ambiente. Não meto medo, mas sei argumentar. Construo armadilhas e sei caçar. Sou racional e humano. Os lobos não pensam. São e serão sempre isto – irracionais.
A questão é que isto vale também para o mercado de trabalho, os lobos atrapalham horrores as organizações, porque caçam o tempo inteiro e são ávidos por oportunidades, pouco importando o resultado. Os meninos, mais discretos, fazem o que deve ser feito e o fazem bem; constroem pontes e garantem caminhos, emprestam inteligência e competência. Prefira sempre meninos para suportar a sua empresa. Os lobos podem, afinal, devorá-la.
* Lise Steigleder Chaves, consultora em gestão de pessoas / ** artigo publicado no A Notícia