Oito ou oitenta
O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) encerra 2013 na noite de quarta-feira (28) ao aumentar o juro básico pela sexta vez consecutiva. O mercado mantém a aposta consensual de elevação da Taxa Selic em mais 0,50 ponto percentual, para 10%, com validade entre esta quinta-feira e 15 de janeiro de 2014. Todos os 42 economistas entrevistados pelo Valor PRO esperavam, há semanas, juro a 10% em dezembro de 2013. Desses, 38 contam que o juro suba ainda mais no ano que vem. A maioria das projeções, 24, está dividida entre 10,25% e 11% em dezembro de 2014. Vai dar para promover a convergência da inflação para o centro da meta? Não. E para a maioria dos analistas juro necessário para este fim só acima de 12%. Parece muito quando se experimentou 7,25%, convencendo até o Congresso Nacional a alterar o cálculo do rendimento da caderneta de poupança para isso. E é. Mas no mercado financeiro acredita-se que não dá para fazer por menos.
Neste ano de 2013, com o Copom anunciando Selic a 10%, a taxa básica brasileira já terá passado por um generoso ajuste de 2,75 pontos percentuais. E sem dobrar a inflação substancialmente. Esse tranco é suficiente, porém, para provocar avarias no ritmo da atividade econômica no terceiro trimestre de 2014 – momento palpitante da corrida eleitoral e, quem sabe, nossa seleção a caminho da final da Copa do Mundo.
A Selic já subiu um bocado neste ano e não foi o bastante para conter a piora das expectativas. De abril até a semana passada, elas só pioraram. A inflação projetada doze meses à frente, mostra o boletim Focus, saiu do patamar de 5,56% para mais de 6,2%. A rigidez exibida neste novo patamar demonstra o descrédito das instituições financeiras nos objetivos do governo e no manejo adequado dos instrumentos monetários pelo BC – não por incompetência, mas opção de governo.
Alguém pode lembrar que não era isso o combinado, porque o regime de metas para inflação colocou a meta em 4,5%. Colocou mesmo há alguns anos. Mas o governo Dilma Rousseff assumiu compromisso com a meta de inflação. Raramente o centro da meta de inflação é citado por qualquer autoridade. Até o BC já falou mais do assunto.
Quando, além das expectativas, a inflação acumulada em doze meses persiste acima de 6%, os agentes econômicos consideram que qualquer ação de política monetária será tomada para evitar que índice ultrapasse o teto da banda, de 6,5%. E não romper esse teto já é considerado bom. Cometendo o equívoco de acreditar que o ruim está bom –e sem reação do governo– o mercado financeiro encontra um atalho que eleva o custo das expectativas.
Neste território, vale o extremo: alguns especialistas estão convencidos de que “nada”, além da ação firme e incontestável do BC trazendo a inflação a 4,5%, será capaz de restaurar a credibilidade da instituição. Para outros, a batalha está perdida. O Brasil nunca teria tido uma economia capaz de conviver com desequilíbrios que geram inflação de somente 4,5%. A inflação brasileira é maior que isso, faça o que fizer o BC. E assim caminhamos para a política do oito ou oitenta.
Em tempo: por mais irritação que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, desperte nos agentes econômicos, ontem o ministro tomou uma atitude incomum e positiva. Disse claramente o que o governo vê pela frente. Em entrevista após encontro com empresários na Confederação Nacional da Indústria (CNI) que “certamente não vamos fazer primário cheio e o governo federal se compromete a fazer R$ 73 bilhões”— montante que corresponde à soma de R$ 73 bilhões do governo central mais o resultado estimado para Estados e municípios. Mantega calcula que a economia para pagar juros deve ficar entre R$ 96 bilhões e R$ 99 bilhões.
Angêla Bittencourt – Repórter editora especializada na cobertura de economia e finanças de Valor Econômico