Interesses alcançados?
O Brasil é destaque no mundo, principalmente na economia, tornando-se uma das que mais vão crescer este ano. Com isso, o investimento estrangeiro no País aumentou de forma expressiva, assim como o investimento de empresas brasileiras no exterior.
Nossas exportações também cresceram, tanto em valor quanto para países que antes não tínhamos trocas comerciais significativas. Assim, nossa economia tem se tornado cada vez mais internacionalizada, o que oferece grandes oportunidades de negócios, mas também de sofrer reflexos de crises.
Todos os países que passaram por esse processo de rápido crescimento acabaram sendo reconhecidos como grandes potências. Como exemplos, temos Alemanha, Japão e China.
Pode-se dizer que as grandes potências têm capacidade de influenciar sobre outros governos e em decisões internacionais. Para tanto, é necessário que as lideranças políticas tenham a capacidade de mobilizar os recursos que disponham e, principalmente, tenham a habilidade de aplicá-los.
Infelizmente, esse não parece ser o caso das atuais lideranças políticas brasileiras.
A nossa diplomacia decidiu aumentar o número de embaixadas brasileiras a fim de, oficialmente, dar respaldo ao crescimento dos interesses econômicos em escala global. Por isso, desde 2003, foram abertas 35 novas legações, sendo que, só na África, foram 15.
Assim, temos postos permanentes no nosso hemisfério, como Antígua e Barbuda, Dominica, São Cristóvão e Névis, e São Vicente e Granadinas. Também estamos representados no Cazaquistão, Azerbaijão e até na Coreia do Norte.
O Brasil conta com representações em 151 países, praticamente três quartos dos Estados reconhecidos junto às Nações Unidas. Portanto, um grande investimento, já que, para ter essa escala, o Ministério das Relações Exteriores conseguiu aumentar o quadro de diplomatas, passando de mil, em 2005, para 1,4 mil este ano. A pergunta que fica é se o Itamaraty conseguiu alcançar os grandes objetivos colocados por este governo.
Afirma-se que se conseguiu uma projeção maior do Brasil. O Brasil tentou eleger seus candidatos para algumas organizações, como à direção-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) e à presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Nas duas ocasiões, não recebemos apoios.
Na negociação da Rodada de Doha de liberalização comercial agrícola, dentro da própria OMC, nós aceitamos o acordo proposto pelos países desenvolvidos, mas Índia e China foram contra. Isso sem contar que Argentina e Venezuela já haviam se pronunciado contra.
Sem dúvida alguma, o Brasil mudou de patamar, e hoje é reconhecido por ter uma crescente economia. Mas, em Brasília, não se conseguiu transformar essa realidade em resultados em defesa dos interesses nacionais.
* por Gunther Rudzit, doutor em ciência política pela USP e professor da Sustentare Escola de Negócios / artigo publicado no A Notícia de 11.07.2010