Contador se reinventa diante da era digital e das novas funções
Com um dia a dia profissional que incluía máquinas de escrever e muitos papéis, o contador Jorgino Pazin, com o passar do tempo, viu sua rotina virar do avesso. Se antes a atividade necessitava de preenchimentos feitos a mão, hoje é necessário que sejam acessados programas unificados e padronizados, tudo em formato digital. Esta realidade não é uma particularidade de Pazin, mas de muitos contadores, que, para permanecer com seus negócios, precisaram aceitar e se adequar à era digital.
Atuando há quarenta e sete anos no segmento, Jorgino Pazin deu início à carreira em 1969, com apenas catorze anos de idade. Na época, começou como office-boy em um pequeno escritório de contabilidade, sendo promovido para auxiliar. Anos depois, o perito assumiu a responsabilidade pela escrita fiscal. “Naquela época, o registro dos livros era desenvolvido à caneta, a apuração dos impostos era feita na calculadora e as obrigações perante as repartições públicas eram datilografadas na máquina de escrever e protocoladas nos bancos autorizados e na Delegacia da Receita Federal”, relembra.
Este dia a dia, que não permitia rasuras nas papeladas, por exemplo, acabou atraindo o contador para o segmento e, em 1981, com apenas 26 anos, Jorgino Pazin abriu seu próprio negócio, a Nova Era Contabilidade, que, por coincidência e olhando com cuidado para os dias de hoje, antecederia a revolução que sua profissão sofreria anos mais tarde.
Nesse período, o contador admite que teve dificuldades como a falta de recursos e poucos clientes, porém isso não o impediu de persistir e, para se manter no mercado, Pazin alocou esforços em conhecimento técnico para atrair a clientela e orientar a equipe que aos poucos se formava. “Era preciso apenas ter a formação de técnico em contabilidade ou de contador, bem como paciência para realizar os serviços contábeis com a mão e máquinas de calcular. O preenchimento de qualquer documento a ser enviado ao Fisco não poderia ter erros ou borrões e, se tivesse, precisávamos refazer tudo”, conta.
Porém, conforme o contador recorda, todos esses procedimentos deram espaço a uma nova realidade, segundo ele, uma verdadeira revolução estrutural da profissão, que exigiu não apenas o conhecimento contábil, como também interpretação e gestão tributária. “A chegada da internet na nossa rotina transformou as operações. Tínhamos de nos adaptar ao novo cenário ou nos tornaríamos obsoletos. Na prática, eu reconheço que apesar de tudo, os procedimentos digitais acabaram por facilitar nossa atividade”, admite.
De acordo com Jorgino, houve entraves no início, pois contava com apenas um computador, que era dividido entre os colaboradores da equipe para adequação e uso na execução dos serviços. Hoje, por outro lado, o escritório avançou bastante, contando com quase trinta computadores em operação, sendo que cada funcionário possui o seu para atender às demandas.
O contador lembra que teve de alocar grandes recursos financeiros para aparelhar sua equipe, bem como reaprender as atividades para acompanhar a era da informática. “Fui me adaptando por meio de cursos sobre o Sped digital, por exemplo, e assisti a palestras, que tratavam das modificações na razão social das empresas, em busca de conhecimento, bem como busquei informação sobre tecnologia avançada para ter como atender à nova demanda”, recorda.
Nascia, então, de fato, uma Nova Era Contabilidade, totalmente reformulada. Este período de adaptação, no entanto, não trouxe dissabores ao contador, que não teve queda na clientela. “Trata-se de um trabalho de confiança e mesmo com novas ferramentas, que ainda estavam sendo inseridas na nossa rotina, a relação com os clientes não foi afetada”, lembra.
Jorgino acredita, porém, que a reciclagem não parou por aí. De acordo com o contador, para se manter vivo no segmento, tanto ele quanto qualquer outro profissional do mercado deve cultivar a ânsia por novos conhecimentos e informações. “O segmento contábil está exigindo frequente modernização de conhecimento das normas implantadas pelo Fisco e as mudanças não devem parar por aqui”, avalia.
De acordo com Jorgino Pazin, antigamente, o trabalho do contabilista era resumido em “débito e crédito”. “Hoje, diante de tantas mudanças, o profissional, além de contador, carrega o papel de consultor tributário das empresas”, afirma. Ele diz, no entanto, que mesmo diante de um cenário que exige cada vez mais pontualidade e clareza dos dados fiscais, o que, na prática, significa contar com um profissional contábil, o mercado ainda carece de bons profissionais. “Seja pelo desinteresse por parte de contadores que acabam por não se capacitarem e se atualizarem, seja pelo ensino que, como está, é deficitário. O fato é que precisamos mudar o atual quadro. Para isso, a formação deve ser revista e o jovem, bem como aqueles dinossauros do segmento como eu, devem acompanhar as constantes mudanças na legislação”, conclui.
DCI