Tecnologia determinará novo cenário contábil
José Maria Chapina Alcazar: A observação é correta. Eu até afirmaria que nós vivemos, nos últimos 40 ou 50 anos,e até dez anos atrás, uma forte interferência do governo na vida do empreendedorismo brasileiro. Nossa profissão ficou relegada ao cumprimento detarefas para atender à demanda do governo em relação ao contribuinte. Com oavanço tecnológico dos últimos 10 anos, há uma evolução, e a própria abertura da economia globalizadatrouxe umaoutrarealidade aos empreendedores do mundo e do Brasil. Consequentemente, aprofissão contábil,pela naturezadessasevoluçõestodas,tem deseadaptar aos tempos modernos e, com isso, ela ganha o resgate do seu valor agregado, que é o intelectual. Hoje, o profissional de contabilidade terá de aplicar a sua intelectualidade, o seu conhecimento, ter o seu pensamento estratégico a serviço da comunidade e dos empresários. A evolução dos tempos colocou a profissão de contabilidade nessa modernidade, e o grande esforço feito por todas as entidades da contabilidade, como o Conselho Federal de Contabilidade(CFC), oConselho Regional de Contabilidade (CRC-SP), junto ao Sescon e às outras entidades que representam a profissão, não tem medido esforços para aprimorar o conhecimento deste profissional que precisa evoluir. Hoje, realmente, na comunidade, é essencial que o contador esteja presente, com conhecimento profundo de planejamento estratégico, tributário, formação de preços e contabilidade internacional.
José Maria Chapina Alcazar: A mudança foi muito rápida e pegou o setor educacional não preparado para esta evolução. Criamos a Universidade Sescon exatamente para preencher este espaçoque tínhamos vazio no mercado, entre a formação e a especialização técnica e a formação superior. Com isso, as faculdades estão sendo mais procuradas pelo curso de Ciências Contábeis, coisa que estava em decadência nos últimos cinco anos. Hoje a procura pelo curso de formaçãodo contadoraumentou e as escolas estão reciclando inclusive as suas grades curriculares para as adaptar aos tempos modernos. Estamos evoluindo, crescendo e o setor educacional também.
José Maria Chapina Alcazar: Nossa base de representação é o Estadode São Paulo, ondetemos 18mil empresasde contabilidade e 80 mil afiliados de todos os segmentos. Nós representamos 62 segmentos econômicos: assessoramento, perícias, informações e abre um leque para todos esses segmentos.A metaéatingir oEstado de São Paulo e os eventos que realizamos aqui, na sede, são transmitidos via internet atendendo toda a malha. Estamos levando agora a Universidade Coporativa, que é a Unisescon, para atender as bases regionais também. Temos os cursos presenciais e estamos abrindo os cursos on-line, mas não estamos abrindo mão da qualificação e da validação dos cursos presenciais. A cada macrorregião estamos levando a Universidade –para agregar a região micro, em uma central macro. É uma combinação de ensino a distância com ensino presencial, voltado à capacitação do empreendedor e do empresário de contabilidade.
contador tenha
conhecimento profundo
de planejamento
estratégico, tributário,
formação de preços e
contabilidade
internacional»
José Maria Chapina Alcazar: Nós temos duas realidades no Brasil: O Brasil do empreendedorismo real e o do empreendedorismo ideal. Infelizmente vivemos com um grande número de empresasna informalidade no País, em função do excesso deburocracia ede carga tributária. Quando o governo desenvolve uma inteligência eletrônica, como Serviço Público deEscrituração Digital (Sped) e a Nota Fiscal Eletrônica, num primeiro momento, a sociedade fica com a impressão de que isso veio só para controlar os grandes, mas nós estamos desmistificando isso: essa tecnologia veio para controlar o pequeno,não o grande. O grande está bem estruturado, tem tecnologia, investimento, vai conseguir redução de logística de operação com estes instrumentos todos que estão sendo implantados. Mas o pequeno vive ainda o desconhecimento e a falta de hábito e nós temos alertado muito da seguinte estratégia: Empreendedor, você, que ainda vive com alguns artifícios de informalidade, cuidado! Fique atento, porque este espaço acabou no País em função dos cruzamentos eletrônicos e da tecnologia da informação. Reveja o seu negócio, planeje se ele efetivamente dá resultados como negócio e não com alguns artifícios que ainda possam existir. Saia desta linha porque você está em margem de risco.Com isso,as empresas de contabilidade e os contadores estão se preparando e evoluindo, e nós temos feito alertas nesse sentido emtodo o Estado de São Paulo e no Brasil. Faço uma comparação muito simples para a sociedade entender. Háanos sofríamospara licenciar os nossos veículos, precisávamos da interferência de um técnico, que seria o despachante. Acontabilidade está passando por este processo. Aquele profissional, que é o tarifeiro e nós chamamos de Darfista,ele irádesaparecerdo mercado, não terá mais espaço para ele. Darfista é aquele sujeito que fica fazendo Darf de Imposto de Renda (IR), que fica sentado, com a cabeça abaixada, sempre levando a notícia ruim para o empreendedor, de quantoele temdepagar deimposto, entregando sempre o Darf de última hora. Esse profissional está ultrapassado, irá desaparecer e nós temos feito palestras em todo o Estado de São Paulo e no País alertando para o fato de que estes profissionais participem dos seminários, eventos, evoluam, se especializem, façam cursos na Universidade Sescon e em outras universidades. Considero essa evolução muito produtiva, pois vai chegar uma hora em que nós vamos ter de exigir isso do governo também. Hoje vemos as notícias nos jornais sobre os escândalos no Congresso, todo dia se fala do mau uso do dinheiro público e é o empreendedor que financia o Estado. Hoje o empreendedor tem de comprar matéria-prima, pagar água, luz, salário e o imposto, mesmo antes de vender a mercadoriae terocliente, oque dáaele odireito de cobrar e criticar. Isso também acontece com a substituição tributária, que é a maior injustiçatributária, o empreendedor de São Paulo e de todo o Brasil, os estados estão colando regime de substituição tributária. O ICMS está sendo pago pelo empreendedor para ele colocar a mercadoria no seu estoque e sair procurando um cliente pra vender. Ou seja, o imposto está sendo pago antes de qualquer comercialização. Então o contador tem este papel de lutar, reinvindicar e assessorar o empreendedor ou seu cliente.
José Maria Chapina Alcazar: Você me dá a oportunidade de provar com estatísticas. O que eu estou dizendo é público. Se nós entrarmos na página da Receita Federal e olharmos a arrecadação do Imposto de Renda e a Contribuição Social, vamos verificar que, de 100% da base de contribuintes pessoa jurídica, 6% são representados pelas empresas de lucro real e 94% dos contribuintes representam as empresas tributadas pelo Sistema de Lucro Presumidoe peloSistemaSimples Nacional. No entanto, 6% das empresas de lucro real contribuem com a arrecadação do Imposto de Renda e Contribuição Social em 85%. Os outros 94%, que representam as empresas tributadas pelo sistema simplificado, contribuem com as duas simples, de lucro presumido, com 15%. Aí está a radiografia. Toda a evolução da tecnologia, como a Nota Fiscal Eletrônica, foi para buscar a eficiência do controle no pequeno. Empresas identificadas como empresas do Simples ultrapassam o limite de uma empresa do Simples só com o aluguel que pagam ao senhorio de um shopping. Esta é arealidade. Os empreendedores precisam ser alertados deque ogoverno tem essa informação, tanto o governo federal como o estadual e o municipal. Eles têm consciência de que, se acionarem, simultanenamente, toda a informaçãoque elestêm nocontrole eletrônico, quebrarão todos os empreendedores com autos de infrações e reflexos criminais; por isso eles começam com operações selecionadas, para alertar a sociedade. Por isso eu fiz esse alerta, até como um serviço de cidadania. Não fique mais na onda de exercer esses planejamentos tributários e achar que o Fisco nãoteminformação. Ele tem,é poderoso, tem instrumentos para controlar e cobrar. Empreendedor brasileiro, organize-se. Faça do seu negócio um verdadeiro negócio. E senão conseguir pagar todos impostos, reveja e repense seu negócio, vá para um outro segmento. Defendemos semprea legalidade,e o governo precisa zelar pela galinha dos ovos de ouro, que é o seu contribuinte: então,dê umsubsídioao pequeno empreendedor,vamos dar cursos, fazer treinamentos, levar palestras ao Brasil todo e abrir uma verba públicapara que ele possa investir em sistemas de gestão, processos de otimização do negócio para resistir a um Sistema de Escrituração Digital (Sped) e atender à exigência do rigor fiscal tributário.
combinação de ensino
a distância com ensino
presencial, voltado à
capacitação do
empreendedor e do
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contabilidade»
José Maria Chapina Alcazar: Nos países mais desenvolvidos, o índice de sonegação é muito menor do que o do Brasil. Temos um problema cultural. Será que o caminho da força é a solução ou nós temos de tratar a causa? Tenho um sistema tributário totalmente ultrapassado, um sistema político que precisa ser reconstruído, em cima dessa base tributáriaeucriei aforçadoscontroles. Eles estão certos, nós temos de aplaudir, é por aí. Mas será que o efeito não poderá ser o contrário? Seráque nósnão temos de refletir e descer um pouquinho mais dizendo o seguinte: “O que eu quero do meu País? Eu quero que a microe pequenaempresa tenhaa oportunidade dese regularizar ou eu quero intimidá-la para que elafique ilegal devez?” Nós temos algunssegmentos deinformalidade muito grande: algumas feiras, que operam noturnamente, giram milhões de reais. Isso é conhecido por todos.
José Maria Chapina Alcazar: O mercado contabilista está altamente aquecido, a demanda é por profissionais especializados e capacitados, e com competência. Na crise se fazem todos os replanejamentos de negócios, nós temos muitas empresas estrangeiras que buscam empreendedorismo no Brasil, e a própria empresa nacional. Ela não pode correr mais riscos, quer ser organizada, e o que nós precisamos deixar claro é que nós falamos muito da informalidade e da sonegação, mas o empreendedor não fica com benefício, ele acaba repassando para o seu cliente essebenefício, porquea competitividade é tão grande, a economia está tão globalizada –com os produtos da China que entram no País– que faz com que ele, para sobreviver, tenha de reduzir preços, e ele reduz preços de uma forma estrategicamente errada. Ele fica em uma situação sempre devedora e delicada. Os serviços de contabilidade hoje têm uma grande demanda porque os empresários estão começando a ficar conscientes de que eles precisam modificar a cultura e precisam de uma excelente assessoria contábil para que não corram risco. Uma das coisas de que temos orientadoessabase équenãotransmitam arquivos eletrônicos de Serviço Público de Escrituração Digital, de Serviço Público de Escrituração Fiscal e outros que estão vindo por aí, sem validar o conteúdo, porque na hora que eu entrego esse arquivo ao governo, ele é irrevogável.
José Maria Chapina Alcazar: Temos uma conquista neste caso,que éuma aprovação,pelo relator da Medida Provisória 449, que aprova e conclui o seu relatório pelo parcelamento. Mas não aceitamos bem este processo, esta linha, porque o que está acontecendo é uma insegurança jurídica. Todos os que procuraram a guarda jurídica e sustentada por decisões dos tribunais, por súmulas, mantendo a inconstitucionalidade, de repente todos foram surpresos e pegos da noite para odia, quetudoaquilo nãovalia mais. Então, existe uma insegurança jurídica no País que nós estamos lutando para reverter, para resgatar a legalidade do estabelecimento da ordem jurídica. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) está trabalhando fortemente nisso, e nós apoiamos estas mobilizações todas.
Fonte: Fenacon