Ética nos negócios e na política
A ética considerada na sua essência como comportamento e atitudes vinculadas ao convívio social, aplica-se sobretudo nas relações profissionais e nos negócios. Os bons e duradouros empreendimentos têm uma história de posturas éticas adotadas pelos seus dirigentes, notadamente junto aos seus clientes e fornecedores.
Sem dúvida, os resultados positivos obtidos nos negócios decorrem de decisões e atitudes éticas e, quando assim seguidos, tendem a assegurar resultados positivos permanentes.
Quando os dirigentes da empresa pensam somente no curto e curtíssimo prazo, obtendo vantagens imediatas e lucro fácil querendo sempre levar a melhor, sem preocupação com a ética e sim, exclusivamente como atingir seus objetivos, tendem naturalmente a ter problemas futuros.
Agindo assim, perdem desta forma os mais preciosos componentes dos negócios, a confiança e lealdade dos seus clientes, que como represália e forma de defesa, passam a procurar no concorrente a satisfação das suas necessidades. Isto é o início do caminho para o fracasso do empreendimento.
Atitudes desta natureza que prejudicam a empresa podem acontecer não só com o comportamento inadequado junto aos clientes, mas com os demais entes envolvidos nas relações empresariais, tais como, funcionários e colaboradores, parceiros, fornecedores de mercadorias, bens e serviços e até mesmo com o fisco. Qualquer dos envolvidos na questão deve ser tratado de forma ética para que a reciprocidade seja garantida.
Os administradores das empresas, sejam entidades públicas ou privadas, devem perseguir insistentemente padrões morais e éticos na conduta dos seus empreendimentos, dando através do exemplo, o estímulo e orientação necessários aos seus funcionários e colaboradores para que pratiquem atitudes éticas em relação à própria empresa e a terceiros que com ela se relacionam.
Uma entidade, uma vez tendo sua imagem desgastada por conta de comportamento antiético e nocivo à sociedade, leva muito tempo para recuperá-la e muitas vezes não consegue, tendo por conseguinte o fracasso como resultado final.
Agir corretamente e com ética não é uma virtude em si, é uma obrigação de todos que convivem socialmente, seja nos negócios, na política ou no campo pessoal. Portanto, quando uma empresa habitualmente pratica atitudes corretas, seus clientes e terceiros relacionados muitas vezes esquecem em pouco tempo, haja vista ser dela obrigação de assim proceder. Entretanto, quando há uma falha ética da empresa, seja no campo econômico ou financeiro, qualidade do produto ou prejuízo ao meio ambiente, o fato rapidamente chega ao conhecimento de todos e os clientes assim como a sociedade em geral jamais esquecem o fato. Isto normalmente afeta de forma direta os resultados da empresa.
A administração moderna recomenda que as empresas, além do aspecto econômico e financeiro, devem preocupar-se também com as questões sociais e meio ambiente. É imprescindível nas organizações a inclusão de estratégias que visem não somente o lucro, mas o apoio efetivo a objetivos de interesse social e de responsabilidade pública, dentre os quais destacamos a educação, cultura, lazer, esporte saúde e assistência médica dos seus colaboradores e comunidades carentes, preservação dos recursos naturais e proteção ambiental.
Na área contábil já é muito comum a publicação de demonstrações contábeis especiais, denominadas de balanços sociais, por parte das empresas, cujas administrações adotam políticas sociais, devolvendo à comunidade parte dos lucros obtidos e extraídos desta mesma comunidade. Através destes balanços sociais as empresas prestam contas à sociedade, dando transparência às suas ações neste campo, tornando-se assim uma empresa cidadã.
No tocante à nova modalidade de interação e negócios, o desenvolvimento e evolução da informática aliados à tecnologia nos processos de comunicação têm trazido mudanças substanciais na ética das pessoas e empresas. O mais visível exemplo é a internet, que vista como um processo de comunicação e de realização de negócios é prova desta grande mudança comportamental.
Nas comunicações e nos negócios feitos através da internet não se pode conhecer de forma efetiva o interlocutor ou a pessoa com quem se está tendo o contato ou fazendo negócios.
Um dos pressupostos presentes nos relacionamentos éticos convencionais é o conhecimento e a convivência que se tem com as pessoas, conhecendo suas características e modo de agir diante dos fatos e circunstâncias.
Na internet isto não é possível de forma presente, de maneira geral não se tem a oportunidade de um encontro “olho no olho”, não podemos sentir o “calor humano” do contato, não podemos cumprimentar com um aperto de mão. Em fim, esta nova forma de comunicação e meio de realização de negócios deu origem a novas formas de sermos éticos nos negócios.
Com a utilização do computador, os negócios realizados via internet impõem às empresas novas formas de tratamento às questões convencionais. Algumas características desta modalidade de comunicação permitem a mudança na velocidade dos acontecimentos, inserem novas formas de remuneração e principalmente no local físico e ambiente de trabalho dos colaboradores e funcionários das organizações.
Pelas razões expostas, os problemas éticos tendem a se avolumar e cada vez mais haverá a necessidade de uma sólida formação moral, rigor e honestidade daqueles que utilizam a internet para a realização de negócios, haja vista que os compromissos podem ser quebrados de forma muito fácil.
Para que haja sucesso das empresas na utilização da internet na realização de negócios, é absolutamente indispensável, é uma questão de “vida ou morte” a ética nas relações com os clientes e demais envolvidos. Este é um tipo de negócio em que a base é quase exclusivamente a confiança e a ética.
A política é uma atividade que envolve interesse público, representando instrumento de transformações sociais. A ética e a política devem andar lado a lado, sobretudo no que se refere a gestão do dinheiro público e sua aplicação nas áreas prioritárias de modo ampliar o desenvolvimento social, beneficiando de forma justa os mais necessitados.
A transparência dos políticos, tribunais de contas e dos gestores públicos é absolutamente indispensável e a sociedade está cada vez mais exigindo o cumprimento dos dispositivos legais.
Mais recentemente, a Lei de Responsabilidade Fiscal veio mostrar de forma inequívoca o desejo e a exigência da sociedade em ver na prática, atitudes éticas dos homens que militam na vida pública do nosso país. Sem dúvida é uma ferramenta poderosa, que se bem aplicada e fiscalizada por todos, certamente trará benefícios imensuráveis à sociedade.
É pena que muitos homens públicos são pobres de consciência moral e a ética quase sempre está ausente nas suas ações, carecendo de uma lei que imponha inclusive pena de prisão para que cumpram coercitivamente seu compromisso moral e se comportem com ética e honestidade no trato da coisa pública.
Neste contexto tem o poder judiciário importância ímpar, pois somente através de decisões pautadas nos parâmetros legais e com posturas sérias e éticas a sociedade pode conviver em paz.
Sem dúvida, a roubalheira e a corrupção, uma vez praticadas na esfera pública, transformam-se no maior mal que se pode causar à sociedade. São os escassos recursos que uma vez desviados e usurpados da sociedade provocam a miséria social do povo, passando pela falta de saúde, assistência médica, educação, segurança pública, infra-estrutura para o desenvolvimento econômico e social, dentre outras carências.
O mais grave é quando a corrupção é praticada pelos que comandam o processo da gestão pública,
havendo uma reação em cadeia, ou seja, o conhecido “efeito dominó”. Nestas condições, muitos daqueles que estão abaixo da cúpula de certa forma se sentem “autorizados” a praticar a corrupção, incluindo neste rol até mesmo as empresas e demais contribuintes que se sentem desestimulados a cumprir suas obrigações tributárias, quando percebem que o resultado do seu esforço no pagamento dos tributos vai parar no bolso dos corruptos, não tendo o devido retorno social.
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Advogado, Contador e Matemático. Em nível de Pós-Graduação é Especialista em Administração Financeira e em Matemática Aplicada (UNIFOR) e Especialista em Direito Empresarial (PUC-SP). Mestrando em Administração de Empresas (UECE). Professor Titular do Curso de Direito (UNIFOR) e Professor do Curso de Ciências Contábeis (UECE). Vice-Presidente do CRC-CE (1998-2001). Presidente do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil -IBRACON – 1a.SR (2002 – 2004). Membro ad immortatitatem da Academia de Ciências Contábeis do Estado do Ceará. Membro da Comissão de Sociedade de Advogados da OAB-CE. Autor de livros nas áreas contábil, jurídica e matemática financeira. Empresário das áreas de Informática, Contabilidade, Advocacia, Treinamentos e Editora. Palestrante. Perito e Auditor Independente.