Parada Ferretti: mais que uma estação, um conceito
por: Osni Alves J
Quem passa às margens da rodovia BR-101, na altura do quilômetro 91, se surpreende com o complexo montado para abastecimento, refeição e lojas diversas. Fundada há 14 anos, a Parada Ferretti, em Barra Velha, atrai olhares por sua construção amadeirada e o verde e marrom, combinação entre árvores vivas e troncos que compõem sua estrutura.
“Aqui é o contrário, quem manda é a natureza”, diz o empresário Oilton Ferretti, 72, idealizador do empreendimento, acrescentando que “a coisa foi nascendo”, ao informar que a estação não surgiu de um projeto convencional, mas do sonho de dar aproveitamento aos troncos de árvores da região norte do Estado.
Engenheiro aposentado, uma de suas paixões sempre foi cavalgar. Em suas andanças, recebia a informação dos próprios colonos locais sobre árvores de eucalipto que poderiam ser arrancadas. Amante da natureza e sempre querendo projetar algo nas peças, adiantava-se, custeava a retirada, o transporte e o beneficiamento do tronco.
Essa rotina e um pouco de sorte fizeram chegar às mãos dele o eucalipto da espécie Saligna, um exemplar único que é considerado a maior árvore suspensa das américas. A peça, encontrada a um quilômetro da obra, está exposta no restaurante anexo ao complexo. O empresário tem muita afinidade com a Epagri e o local obedece à legislação ambiental.
A propriedade onde foi instalada a Parada é da família Ferretti desde os anos 1970. Seus pais ali residiram assim que chegaram do oeste catarinense. Já Oilton viveu em São Paulo por muitos anos trabalhando como engenheiro. Assim que pôde, desvinculou-se do segmento e retornou a Santa Catarina para cuidar da família.
Visionário por natureza, iniciou o empreendimento sem muita pretensão, até porque o tom do projeto estava condicionado ao que se poderia fazer com o recurso pretendido: os troncos. Cada peça era única e assim foi sendo erguida a Parada. Outros pontos da construção seguiam o padrão, mesmo sendo partes convencionais, como telhas e coberturas.
“Fizemos a pirâmide de telhas no Auto Cad. Mas na hora de colocar, não encaixava como deveria. Aí, buscamos na metodologia de outras épocas, a exemplo de como os chineses erguiam suas edificações. Compreendemos o processo e passamos a afixar cada telha tendo por guia uma linha”, disse, ilustrando a praticidade e funcionalidade do serviço à moda antiga.
Praticamente tudo ali é único, desde a peça utilizada à forma concebida. Olhares dispersos passam no vazio. Olhares atentos enxergam totens e outros ícones. Cada tronco uma história. “Desenterrar uma árvore grande pode levar até cinco meses. Precisa aliviar, tirar a terra, puxar devagar e outros procedimentos. É uma arte, um garimpo”, disse.
Para Ferretti, “a criação é muito individual”, mas, ainda assim, “tem que estar adequada ao serviço do visitante”. “Eu não opero nada aqui, tá tudo alugado, mas a marca da Parada tem esse conceito”, frisou.
Modesto, brincalhão e não afeito a fotos, ele diz que a parte da construção já passou e o que vive agora é a parte da conservação. “Conservar o que se criou, seu conceito, sua clientela e sua marca, seu futuro”, ressalta. “Minha preocupação sempre foi o depois.”
O COMPLEXO
São 10 lojas, um restaurante, um posto, uma borracharia e aproximadamente 80 funcionários indiretos. O carro-chefe é o posto e o restaurante. São cerca de 40 mil visitantes por mês. O empreendimento tinha um serpentário até 2013. A construção é sustentável com material local e utilização de água de reuso e tanques jaquetados no posto.
Outro empreendimento que está chamando a atenção no complexo é o pet shop com hospedagem. Famílias que chegam para abastecer, almoçar e descansar podem deixar seus animais ali pelo tempo necessário. Porém, eles ainda não trabalham com pernoite.
Para os aficionados por carros, modelos antigos expostos no pátio externo e alguns dentro do antiquário, onde também é possível ver e comprar peças antigas como vitrolas, máquinas de escrever, fliperamas e objetos decorativos vintage.
Das lojas convencionais, moda praia surf wear, roupas em couro e produtos típicos e coloniais. Já para matar a fome, o restaurante é uma atração à parte.
CATARINA POR CONVICÇÃO
O carioca Elivaldo do Rosário Alves, 39, tinha tudo o que um profissional da gastronomia poderia sonhar. Chef reconhecido nos grandes centros, currículo e experiência internacional, profissional de uma das maiores redes que operam no Brasil, ele estava satisfeito. Foi assim até conhecer Santa Catarina, mais precisamente o litoral norte.
“Me enviaram a treinar uma equipe em Florianópolis. Do tempo que fiquei no Estado, a trabalho, um casal de amigos me trouxe ao litoral norte. Me encantei. Na hora desejei residir aqui. Tudo me atraiu, a simplicidade, a segurança, a qualidade das praias”, disse. Porém, seu retorno ao Rio de Janeiro estava próximo.
Para celebrar sua partida, já programada, o levaram para almoçar no restaurante que operava à época na Parada Ferretti. Sem nenhuma pretensão, ele conversou com os proprietários, fez sugestões ao menu e deixou uma excelente impressão. Sua proatividade rendeu um convite profissional: assumir as panelas daquela cozinha.
Eufórico pela oportunidade, mas sem saber o que fazer, foi conversar com seu superior ao voltar à cidade maravilhosa. Para surpresa sua, foi motivado pelo chefe a aceitar a proposta. “Me ofereceram coquetel de despedida e poucos dias depois estava aqui”, contou. Ele já está na Parada Ferreti há dez anos. Os outros dez que tem de carreira foram na rede Sofitel.
Dos trabalhos que realizou, cita um almoço que serviu na Ilha de Caras para, dentre outras celebridades, o cineasta norte-americano Woody Allen. Foi vencedor do prêmio Nestlé de gastronomia por três vezes e tem uma receita publicada no livro Sabores de Santa Catarina.
Na cozinha local, destaca a criação ovelha crocante como uma das mais requisitadas. “Sempre me pedem a receita. Não me importo em dar, mas dificilmente conseguem reproduzi-la a contento.” Casado há nove anos com uma sergipana radicada em Barra Velha, tem dois filhos catarinas: um nascido em Joinville e o outro em Itajaí. Ele tem mais três filhos cariocas.
O restaurante anexo à Parada é operado, atualmente, pela rede Hotel Estação 101.