Para quem está precisando do dinheiro, é hora de vender ações?
SÃO PAULO – “Investir na Bolsa? Nunca mais!”. Se essa sentença não saiu de sua própria boca, foi certamente dita por algum conhecido. A economista e professora de Finanças da Fundação Vanzolini, Sandra Biagioli, explica que, com a crise, investidores com pouca experiência no mercado de ações podem ter desenvolvido aversão à Bolsa.
Não é difícil entender o motivo. Para quem investiu no primeiro semestre do ano passado, os rendimentos caíram, e muito. “A lição é meio amarga e pode originar um sentimento de resistência em alguns investidores”, enfatiza a professora de Finanças.
Empréstimo: primeira ou segunda opção?
A situação é mais crítica para as pessoas que investiram mais do que deveriam e agora precisam do dinheiro, ou sabem que irão precisar do montante no final do ano. Elas podem estar se perguntando: com a recuperação da Bolsa, nos últimos meses, seria esta uma boa hora para vender os papéis, ainda que nem todo o valor aplicado seja recuperado?
Para o estrategista da TCX, Edgard Tamaki, o investidor deve, em primeiro lugar, comparar os juros cobrados de bancos com a perda que terá ao vender as ações. Com a queda da Selic, hoje em 9,25% ao ano, instituições como Banco do Brasil, Bradesco, HSBC e Itaú reduziram as taxas de juros cobradas às pessoas físicas.
Wilson Nakamura, professor da pós-graduação em Ciências Contábeis e em Administração do Mackenzie, afirma que dificilmente valerá mais a pena tomar um empréstimo no banco do que vender as ações agora e realizar prejuízo. “Para mim, não faz sentido não vender os papéis e se endividar”, diz.
Já Tamaki não é tão enfático e afirma que pode valer a pena permanecer com as ações e procurar um empréstimo consignado, cujos juros são mais baixos.
O quanto você precisa do dinheiro?
Faça as contas e verifique se realmente necessita do dinheiro investido. O importante, neste momento, é não entrar em pânico. Se chegar à conclusão que não tem jeito e que os juros cobrados pelos bancos não compensam, especialistas recomendam vender parte de suas ações.
“Quem fizer o cálculo e perceber que se expôs demais porque aplicou um dinheiro que não podia, a melhor hora para sair é agora. Isso porque a recuperação nos últimos meses não tem fundamento e uma hora a Bolsa pode despencar. Como não há indícios de recuperação econômica consistente, pode ser que tenha subido demais”, afirma o professor de Finanças da FIA-USP, Ricardo Almeida.
Segundo ele, o motivo da recuperação verificada desde março é a queda dos juros. Apesar da inconstância e das oscilações que refletem as notícias veiculadas na mídia, não se pode negar que, desde 27 de outubro do ano passado, quando o Índice Bovespa chegou a 29.435 pontos, houve uma recuperação considerável. Para se ter uma ideia, entre 3 de março e 19 de junho, a alta já soma cerca de 40%.
“Investidores de fundos de renda fixa e multimercados foram para a renda variável e anteciparam o movimento de alta na Bolsa, já prevendo uma queda ainda maior nos juros. Além disso, muitas pessoas bem assessoradas aproveitaram o período de baixa do Ibovespa para investir no mercado de ações. Basicamente, são os investidores estrangeiros que estão determinando esses movimentos. Os resultados das empresas listadas não justificam a alta”, argumenta Almeida.
Alta não se sustenta
A conta não fecha também para Tamaki, da TCX. Ele se preocupa, principalmente, com a queda observada na semana passada, motivada pela fuga dos investidores estrangeiros, e na segunda-feira (22), calcada nas novas projeções do Banco Mundial para a economia global e brasileira, de retração de 2,9% e de 1,1%, respectivamente, este ano.
“As bolsas de valores de todo o mundo se estressaram bastante com a expectativa anunciada pelo Banco Mundial. Mas este mês inteiro tem sido perigoso”, afirma. “Os investidores estrangeiros compraram ações na Bolsa brasileira quando esta estava em baixa, no ano passado, ou mesmo no início deste ano. Desde então, ganharam cerca de 40% com a valorização do Ibovespa. Ganhar 40% no meio de uma crise é estranho. Acho que eles perceberam que já ganharam muito e estão saindo”, analisa.
Ele olha com certa desconfiança também o fato de o Ibovespa estar no mesmo patamar que estava, por exemplo, em alguns períodos de 2007, quando a economia mundial ia bem, as empresas cresciam e o nível de desemprego estava diminuindo.
Observe como o movimento de entrada e saída de capital externo interfere no resultado da Bolsa:
Fonte: Infomoney