Mercado mostra Selic de um dígito já nesta semana
O mercado de juros futuros ganhou cara nova na semana passada. A Selic de um dígito, que já estava no preço havia um tempo, poderá ser atingida já na quarta-feira desta semana, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) anunciar sua decisão, na leitura dos investidores.
As taxas futuras negociadas na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) tiveram firme baixa na sexta-feira, mostrando chance de corte de 0,75 ponto a 1 ponto percentual no juro básico, atualmente fixado em 10,5% ao ano. Se tais expectativas forem confirmadas, a Selic cai para 9,5% a 9,75% ao ano.
Vale ressaltar que isso não é consenso. Pesquisa feita pelo Valor com 29 economistas na quinta-feira, mostrou que todos eles esperavam manutenção do passo de corte de meio ponto percentual.
Anda assim, na sexta-feira, a Nomura Securities mudou sua previsão de corte de meio para 0,75 ponto. A Icap Brasil foi mais agressiva e mudou a expectativa de meio para 1 ponto percentual.
A ideia de que o Banco Central (BC) pode acelerar o ritmo de ajuste da Selic tomou forma com as medidas cambiais baixadas na quinta. Quanto mais rápido a Selic cair, mais rápido cai a diferença entre as taxas de juro domésticas e externas e menos atrativas se tornam as operações de arbitragem de juros, o famigerado “carry trade”.
As duas medidas cambiais anunciadas na quinta-feira, dia 1ª de março, aguçaram essa percepção de que a política monetária está mais atenta à questão cambial.
“O mercado está comprando a ideia de que o BC, para segurar o fluxo de capitais, tem de acelerar a queda do juro”, diz um operador.
Fora isso, também surgem comentários relembrando que o presidente do BC, Alexandre Tombini, destacou que a economia cresce abaixo de seu potencial – o que abre espaço para juro abaixo da chamada taxa neutra.
Outro fato que agora virou “pista” de um corte maior foi a retirada do termo “ajustes moderados” da comunicação oficial da autoridade monetária.
Se o noticiário nos próximos dias não trouxer algum aceno diferente desse, alguma informação nova que realinhe as expectativas, o mercado deve manter essa cara até a quarta-feira.
Pelo lado técnico, Luis Rogé, do site Investcerto, aponta que a curva de juro já não teria espaço para cair muito mais do que isso. A relação risco/retorno de se apostar na baixa mais acentuada não está tão atraente.
“Quem apostou antes, ou seja, estava vendido em taxa futura, se deu bem. Agora o espaço para ganho está bem limitado”, diz Rogé.
Aqueles no mercado que discorda do comportamento das taxas futuras avaliam que o risco inflacionário não permitiria tal postura do BC.
Parte da queda da sexta-feira também pode ser atribuída ao “stop” de posições. Quem estava com posição comprada foi obrigada a sair dessa aposta.
O que é certo é que o giro do dia foi grande. Foram 2,9 milhões de contratos negociados em 11.270 negócios, novo recorde histórico em número de transações na BM&FBovespa.
No câmbio, a sexta-feira foi de forte alta no preço do dólar. A moeda subiu 1,17% no mercado à vista, para R$ 1,732. Na semana, o dólar acumulou alta de 1,46%, maior ganho semanal do ano. No acumulado de 2012, no entanto, a moeda registra queda de 7,33%.
A percepção é de que o governo está “passando a lupa” em todo e qualquer tipo de operação cambial. E onde há “janelas” de oportunidade, elas serão fechadas.
Para o superintendente de tesouraria do Banco Banif, Rodrigo Trotta, essa sinalização de que mais medidas podem vir deixa o mercado com o “pé atrás”.
No entanto, pondera Trotta, não devemos ver mais restrições cambiais. A tendência do dólar mudou. Ela seria de alta, aqui e no mercado externo.
Na visão do especialista, a injeção de euros feita pelo Banco Central Europeu (BCE) – mais de € 1 trilhão em dois meses – já está tirando valor da moeda comum europeia e, consequentemente, dando fôlego ao dólar.
Na visão de Trotta, a teoria do governo de que os bancos estão pegando esses euros para fazer arbitragem de juros no Brasil é menos relevante do que a virada de tendência global do dólar.
* Valor Econômico