Hoffice é a nova onda para profissionais que não têm escritórios
De noite é um apartamento, de dia, um escritório. Em um apartamento de Estocolmo, duas pessoas sentam em uma mesa de jantar, debruçadas em seus laptops. Duas outras ocupam uma mesa da cozinha. Um homem acomodado numa poltrona com o laptop no colo, seus pés em cima de um banquinho. A atmosfera é aconchegante, com uma estante bagunçada e uma jarra de café fresquinho. Nenhuma dessas pessoas vive no apartamento.Elas estão no “hoffice” (de “home-office”), como foi batizado pelo psicólogo sueco Christofer Franzen, 35 anos, que estuda como as pessoas podem trabalhar de forma mais eficiente.
A moda escandinava promete pegar. Nas contas de Franzes há 13 grupos de “hoffices” espalhados pela Dinamarca, Canadá, Franca, além da Suécia. Ele está fazendo contatos com profissionais na Turquia e na China para criarem seus próprios grupos também. Espera-se mais 10 grupo’hoffices” nesses dois países.
A ideia surgiu no ano passado, quando Franzen fazia sua tese de mestrado e estava cansado de trabalhar em cafés. Ele pensou: “e se eu trabalhasse junto com os meus amigos?”. Um deles, o consultor financeiro Gosta Tingstrom, de 52 anos, não tinha escritório. Então, eles contactaram outros amigos e arranjaram a casa de um deles para usar como escritório sem pagar nada por isso.
Durante um ano o “hoffice” permaneceu como um experimento informal. “Então, no ano passado houve um efeito bola de neve. Estranhos começaram a aparecer”, lembra Tingstrom. A novidade havia se espalhado boca a boca. Alguns até queriam começar seus próprios “hoffices”. Os fundadores ensinam a cada “hoffice” os mesmos princípios de produtividade. Por exemplo, não pode haver mais de 10 pessoas em um mesmo “hoffice”. O horário de trabalho é estipulado entre 9h às 17h dividido em períodos de 45 minutos, com intervalos de 15 minutos para relaxar. Os pequenos recreios incluem jogos, meditação e saídas rápidas para fora do apartamento ou casa. Vários estudos revelaram que as pessoas produzem mais quando trabalham em jornadas curtas, o mais famoso deles feito em 1993 com violonistas, pela Associação Americana de Psicologia.
Espaços coletivos de trabalho organizados em residências já existem há algum tempo. O que torna o “hoffice” diferente das outras experiencias é que que ele tenta moldar um grupo de trabalho em uma empresa dividida, criando uma estrutura bem específica e que procura manter todos muito bem focados. O startup “hoffice” escandinavo tem como objetivo trazer rigor e produtividade ao conceito de espaços residenciais usados por trabalhadores.
Antes de cada sessão de 45 minutos, os trabalhadores do “hoffice” contam aos demais o que eles têm como meta no dia, seja conquistar um cliente ou terminar um relatório. “Nós acreditamos que isso faz com que as pessoas se sintam mais comprometidas com suas missões”, diz Tingstrom. “ Isso também torna as pessoas mais reponsáveis diante de objetivos muito ousados. Os colegas do ‘hoffice’ ajudam essa pessoa a ter atitudes realistas diantes das metas difíceis”, explica.
No meio do dia, todas as pessoas têm uma hora ou mais de intervalo para almoço. O anfitrião é reembolsado pela comida, o que na verdade é a única coisa que deve ser paga pelos demais. Cada ramo”hoffice” tem a sua própria atmosfera. Um na Suécia é chamado de “doffice” (de“distant office”), para pessoas que trabalham pelo Skype. Uma anfitriã de Toronto, no Canadá, coletou uma taxa de US$ 5 até que os fundadores do “hoffice” pediram a ela para parar de cobrar. “Eu nunca ouvi falar de um conceito como esse antes. Mas é fascinante”, diz Teresa Amabile, diretora de pesquisa da Harvard Business School que estuda como as pessoas trabalham. “É como uma grande sala de aula, mas sem o professor do colegial”, constata.
A moda dos “hoffices” ainda não desembarcou nos Estados Unidos, mas há pessoas em Boston e na Filadélfia que já começam a se preparar para organizar os seus. Segundo o Censo dos EUA, o número de americanos que trabalha de casa aumentou 38% nos últimos 20 anos e agora representa 7% de todos os empregados, ou 10 milhões de pessoas. Tem havido também um boom em espaços de trabalho divididos entre trabalhadores. A Associação de Desenvolvimento de Imóveis Comerciais diz que existia apenas uma dessas empresas nos EUA em 2005. Até 2013 élas já somavam 781. A maioria delas, no entanto, buscavam o lucro, como o NextSpace de Santa Cruz, na Califórnia, que cobra até US$ 1,300 por mês. Os defensores do “hoffice” odeiam essa comparação.
A maioria das pessoas que usam o “hoffice” são auto-empregados. Alguns apenas começaram suas empresas e esperam eventualmente ter seu próprio escritório algum dia. Outros são freelancers que estão cansados de trabalhar sozinhos em seus próprios apartamentos ou casas. Um deles é um boleiro. Ele prepara bolos na cozinha do “hoffice”. “É incrível o quanto eu consigo produzir”, diz Andreas Wolf, de 27 anos, uma planejador urbano em Copenhague. Até agora todos os “hoffices” são organizados na casa de alguém. Mas Wolf diz que está pensando em alugar um espaço barato e fazer em Copenhague o primeiro ramo de “hoffice” permanente. Mas é claro que nesse caso ele será apenas como qualquer outro escritório”, constatou.
Brasil Econômico