Escoladas em crises, empresas recomendam arrocho fiscal e dedicação aos clientes
Para onde caminha o país? A crise de 2015, que pisou forte no freio da atividade econômica, é parecida com tormentas passadas? O que esperar de indicadores importantes como o emprego, a inflação, a taxa de juros? A economia em retração preocupa de forma generalizada, das famílias aos empresários. Quem está há muito tempo no mercado e já atravessou vários momentos de ajustes acredita que um diferencial dos brasileiros é sua capacidade de adaptação, desenvolvida ao longo de algumas décadas. Atrás de respostas para entender melhor o cenário atual, o Estado de Minas ouviu a opinião de empresários de áreas cruciais para o desenvolvimento econômico e social de uma nação: saúde, agronegócio, manufatura e varejo. Em comum eles têm a experiência de sobreviventes da sucessão de altos e baixos da economia brasileira nos últimos 20, 40 e 100 anos, respectivamente.
Pode-se dizer que se a economia brasileira fosse uma pessoa, seria no mínimo conhecida pelo seu humor instável. Como se de tempos em tempos, alternasse da euforia à tristeza, do riso ao choro. Mas como ajustar os ponteiros e domar a turbulência que aparece não só no momento de fechar as contas, mas no cenário político, restaurar a confiança do empresário, preservar a renda da população? Sem bola de cristal, os empresários mostram as armas que vão usar para enfrentar a tormenta. A guerra envolve enxugamento de gastos, fim do desperdício, qualidade como princípio básico e criatividade para enxergar novos filões de consumo.
De um outro ângulo, João Camilo Penna, economista, ex-ministro da Indústria e Comércio e ex-presidente de empresas como Cemig, Eletrobrás e Furnas, diz o que o atual momento da economia é complexo, mas se fosse resumir, ele diria que o núcleo da crise está nas contas públicas. Se pudesse um golpe fatal, a mira de sua artilharia seria “o déficit do orçamento.”
Camilo Penna lembra que, bem diferente dos 7,6% de crescimento alcançado em 2010 o país amarga agora a menor expansão do mundo entre os 42 países avaliados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Ostenta, também, um lugar desconfortável, ao liderar o ranking da inflação no mundo, depois da Venezuela, Argentina e Egito. Para o especialista, a tragédia da mudança de humor da economia pode ser atribuída à surrada política de aumentar a taxa de juros, para conter a inflação, impedindo a economia de crescer.
“O núcleo dessa crise está no déficit fiscal, que é enorme em relação ao PIB (o Produto Interno Bruto, que retrata o conjunto da produção de bens e serviços do país). No momento, temos a mais alta taxa de juros do mundo e uma inflação que não cede. Essa é a tragédia brasileira”, observa Camilo Penna.
O risco do ajuste, segundo ele, é substituir as medidas pela elevação da carga tributária, que já atinge 37% do PIB. Indagado se essa crise é pior ou mais branda do que as do passado, o especialista avalia que comparar presente e passado é algo impossível: “Cada época tem sua dor. O que é preciso agora é restaurar a confiança”, afirma.
Estado de Minas