Com falta de perspectiva, pequenas empresas estão mais pessimistas
A falta de informações ou de resultados dos benefícios com os ajustes públicos já feitos na economia aumentou ou está espalhando o sentimento de pessimismo entre os donos de pequenos negócios.
“O ano de 2014 acabou mal, com estoques de notícias ruins de que seriam feitos ajustes fiscais. A expectativa era de que seriam dois trimestres de sofrimento, mas esse tempo passou e a situação até piorou”, avalia Gino Olivares, professor de economia do Insper.
Segundo ele, os empresários, de modo geral, entendem a necessidade do processo de mudanças que passa a economia, mas quer colher benefícios. “Eles só enxergam aumento de custos [impostos e juros], o que é mais intenso entre as pequenas empresas, as quais já estavam no limite. Com isso, o ambiente de incertezas aumenta e, como é natural do comportamento humano quando há dúvidas, o empresário se retrai”, explica.
Conforme pesquisa divulgada na semana passada pelo Insper, a confiança do pequeno e médio empresário no País, para o terceiro trimestre de 2015, recuou 0,5% em relação ao trimestre anterior, ao registrar 57,4 pontos – 100 pontos equivalem ao nível máximo de confiança.
Apesar de mostrar uma estabilidade do Índice de Confiança do Empresário de Pequenos e Médios Negócios no Brasil (IC-PMN), elaborado pelo Centro de Pesquisas em Estratégia da instituição, com apoio do Santander, o patamar do terceiro trimestre foi o menor valor da série histórica, inferior ao valor observado no segundo trimestre de 2009 (58,8 pontos).
“A estabilidade não significa que esses empresários estão satisfeitos com a situação, pode até parar de piorar, mas ainda terá um desconforto […] Por outro lado, como ainda não houve efeito de alguns ajustes, como os últimos aumentos de juros, as expectativas podem piorar”, entende Gino Olivares.
Dispersão
O professor do Insper comenta ainda que, entre as regiões brasileiras, a queda na confiança no País, é generalizada. “No final de 2014, havia uma discrepância do Norte e Nordeste com o Sul e Sudeste, talvez, por conta do comércio local que estava ativo e empregando. Mas, agora, a situação é o oposto. O desemprego aumentou. Uma causa pode ser o fato de os ajustes fiscais limitarem a ajuda do governo a esses estados”, aponta.
Da mesma forma, entre os setores também ocorre a generalização da maior desconfiança. O IC-PMN caiu 1% nos serviços e 7,1% na indústria no terceiro trimestre. No comércio aumentou 1,7%. Mas Olivares afirma que na pesquisa anterior, o indicador do setor foi o menor da série. “Todos os números precisam ser relativizados”, sugere o professor.
Outra pesquisa divulgada na última sexta-feira pelo SPC Brasil e Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) confirma essa deterioração das expectativas.
Em junho de 2015, o Indicador de Confiança do Micro e Pequeno Empresário de Varejo e Serviços registrou 36,38 pontos. “Como 50 pontos quer dizer uma posição neutra, e 100 pontos maior nível de confiança, o resultado mostra cenário de mais pessimismo”, justifica a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
O número é a composição de dois outros indicadores: o de Condições Gerais, através do qual se busca avaliar, do ponto de vista dos empresários, a evolução dos negócios e da economia nos últimos seis meses; e o de Expectativas, o qual demonstra o que eles esperam a partir de junho em um horizonte de seis meses.
“Dentro das condições, existem dois subitens economia e negócios. No caso do primeiro, o patamar é de 41,3 pontos, abaixo do nível neutro. Isso demonstra que neste aspecto, eles empresários percebem que estão de mãos atadas. Mas nos negócios, o indicador atingiu 55 pontos, o que revela que os empresários avaliam que podem fazer ajustes para passar pela atual situação econômica, com revisão de seu portfólio de produtos ou até em sua gestão”, elucida Marcela.
No entanto, ele prevê que 2015 será um ano “ruim” para as empresas e aqueles que conseguirem passar por esse período, irá crescer quando a economia voltar a avançar.
Indústria
O presidente do Sindicato da Micro e Pequena Indústria de São Paulo (Simpi), Joseph Couri, concorda com a expectativa do mercado de que a economia deve se recuperar dentro de dois anos. “Mas o desafio será passar por esses dois anos”, alerta.
Segundo ele, o último resultado do Indicador de atividade da micro e pequena indústria (MPI), encomendada pelo Simpi ao Datafolha, aponta uma tendência de fechamento das pequenas empresas: para 66% dos entrevistados, a crise está prejudicando seus negócios e colocando o futuro da companhia em risco. E desses 16% esperam que o fechamento ocorra em 90 dias. “Ou seja, são 46 mil MPIs que podem fechar em agosto, levando a cerca de 230 mil demissões. Um sinal de pessimismo”, aponta.
Uma das medidas para reverter esta situação, segundo Couri, é elevar o acesso ao crédito, por meio de medidas públicas e privadas.
DCI