O rádio vai acabar? Não, o rádio não vai acabar
por: Arnaldo Zimmermann
A pergunta acima foi feita na década de 1950 no Brasil e no mundo, após o surgimento da televisão, que recriava os atrativos das ondas sonoras acompanhados de imagens. A resposta foi dada ao longo das décadas e continua valendo hoje mais do que nunca.
O meio rádio é, com toda a certeza, o meio convencional de comunicação com maior capacidade de reinvenção. Mudou quando surgiu a concorrência das imagens, deslocando-se de um meio de atenção concentrada em seus espetáculos sonoros para um meio “companheiro” em sua forma física e em sua nova linguagem. Adaptou-se com a chegada da internet, já que uma de suas maiores características é justamente a velocidade da informação, valendo-se da ubiquidade e mobilidade como grandes vantagens históricas do meio. Pela menor complexidade de suas operações, antecipou-se ao processo de digitalização de seus equipamentos internos, embora esteja muito atrasado no processo de digitalização de sua transmissão.
Diante do atraso e dos empecilhos para tornar o rádio digital, o meio parece ter encontrado suas várias formas de resiliência, algumas em que depende de autorização governamental e outras em que depende de si próprio e de seu modelo de negócios. Do lado da dependência do governo está a migração dos canais de “AM” para “FM”, melhorando significativamente a qualidade do som e em muitos casos qualificando o sinal – “qualificando” porque é possível sintonizar a emissora em locais considerados antes “pontos cegos”, como estacionamentos e prédios urbanos, mas não necessariamente “ampliando” o sinal, já que a modalidade de rádio AM possui uma maior capacidade de propagação de sinal em locais abertos. Já naquilo em que as emissoras dependem de suas próprias pernas para avançar, podemos citar as versões web das emissoras comerciais, dos aplicativos para uma escuta mais instantânea nos smartphones, da transmissão simultânea de imagens nos estúdios e nas coberturas de eventos e do aumento da capacidade de interatividade, tanto como forma de produção mais ágil de conteúdo como a utilização de canais de retroalimentação por parte do público.
Essa capacidade de garantir instantaneidade com o seu conteúdo e o seu público faz com que o rádio também se apresente cada vez mais como uma boa alternativa para anunciantes, oferecendo espaços mais versáteis para a inserção de materiais de cunho comercial. O jornal impresso e a revista, por exemplo, ainda vivem na era da periodicidade, com horários de fechamento comercial e disputa por espaço para publicação. A TV tem “hora marcada” tanto para a inserção de conteúdo jornalístico quanto para a inclusão de novos anúncios e conta ainda com maior dificuldade em flexibilizar os seus rígidos formatos comerciais, enclausurados na era dos 30 segundos.
Em contrapartida, o rádio corre livre de tais amarras, assemelhando-se à liberdade que possuem os meios digitais, mas ainda com uma vantagem sobreposta: a de maior facilidade na criação, produção e emissão dos mais variados tipos de anúncio. No rádio é possível “patrocinar” quase todas as ações transmitidas ao vivo, até porque quem regula o espaço de tempo do “vivo” é a própria emissora. É possível também agregar valor ao produto do anunciante com o conteúdo veiculado pela emissora, claro, respeitando os limites éticos profissionais e de difusão. É possível também “pedir a colaboração” do próprio consumidor ou ouvinte na construção do anúncio, diante de sua imensa capacidade de interação com seu público, seja na cobertura presencial de eventos, seja durante a participação do público via programação no estúdio. E atualmente pode ainda agregar anúncios digitais em sua transmissão pela web. Enfim, ao invés de reforçar a sentença negativa de seis décadas atrás, o rádio responde “estamos muito bem, obrigado”. “E não paramos de crescer”.
- O autor é radialista, jornalista, mestre em Jornalismo e professor universitário dos cursos de Jornalismo e Publicidade & Propaganda.