O Banco Central, os juros e o desemprego recorde
O Banco Central entrou com tudo no radar do Palácio do Planalto. Assessores do presidente Michel Temer andam se perguntando por que a autoridade monetária está impondo um custo tão alto à economia. Os questionamentos ganharam força dia 28, depois que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou novo recorde no desemprego no trimestre terminado em março. A desocupação atingiu 13,7% da população economicamente ativa, totalizando 14,2 milhões de pessoas. Para auxiliares de Temer, o conservadorismo do BC, sob o comando de Ilan Goldfajn, está contribuindo para atrasar a recuperação da economia. Os juros, dizem eles, deveriam ter caído mais rápido. A taxa básica (Selic) está em 11,25% ao ano.
A análise, do jornal ‘Correio Braziliense’, afirma que, no Planalto, todos reconhecem os bons serviços prestados por Ilan e seus subordinados no controle da inflação. A credibilidade da diretoria do BC foi fundamental para controlar as expectativas de inflação dos agentes de mercado. Mas a visão unânime entre os auxiliares de Temer é de que o BC precisa dar uma cota maior para a retomada do crescimento. Quanto mais a autoridade monetária demorar para levar os juros ao que o mercado chama de taxa de equilíbrio, algo entre 8% e 9% ao ano, mais tempo o país demorará para sair do atoleiro. Os juros muito altos inibem, principalmente, a renegociação de dívidas de empresas e das famílias, travando três pilares do Produto Interno Bruto (PIB): produção, investimentos e consumo.
A demora para a recuperação da economia também tem um custo político, destacam assessores presidenciais. Eles acreditam que o desemprego maior engrossa a gritaria dos que são contra as reformas trabalhista e da Previdência e dão fôlego para os que estão indo às ruas em manifestações contra o governo.
Deflação
O governo acreditava que a taxa de desemprego se estabilizaria em torno dos 12%, com a economia mostrando força no primeiro trimestre. A significativa queda da inflação seria fundamental para que esse quadro se confirmasse. O problema foi que a atividade não se recuperou como o esperado e o desemprego continuou firme. A cada ponto percentual de aumento da taxa de desocupação, pelo menos 1 milhão de pessoas engrossam o exército de pessoas sem trabalho. É muita coisa. Na avaliação de especialistas, a taxa de desemprego ainda continuará aumentando e deve passar de 14%. Na melhor das hipóteses, o mercado de trabalho só deverá mostrar reação no último trimestre do ano. Mas é mais torcida do que um fato concreto.
O governo espera que o BC apresse os passos nos cortes dos juros. Um dos argumentos usados para justificar uma queda maior da Selic é o IGP-M, que registrou deflação de 1,10% em abril. O indicador revela que, se há pressão sobre o custo de vida, é para baixo. O recuo dos preços no atacado deverá ser repassado ao varejo.