Empresas devem manter gestores experientes
Entre os efeitos da crise sobre os executivos estão devolução e final dos tradicionais bônus, menores salários e até desemprego
A crise mundial, definitivamente, vai mudar a ordem econômica. A maioria das maiores empresas do mundo está muito menor – as 20 maiores companhias de capital aberto do planeta tinham um valor próximo a US$ 5,3 trilhões em 2007 e hoje valem US$ 3,5 trilhões. Os efeitos dessa desvalorização no mercado de ações sobre os executivos são tão drásticos como estes números: devolução e final dos tradicionais bônus, negociação de salários e, pior, muito desemprego em todos os níveis e pouca luz no fim do túnel.
Vice-presidente da AIMS International Management Search, a maior rede de busca de executivos do planeta, presente em 55 países, John Poracky trabalha em Chicago, o que equivale a dizer que assiste, no “olho do furacão”, o desenrolar da crise nos Estados Unidos e no resto do mundo. Na semana passada, Poracky esteve em Curitiba para participar de palestra promovida pela seccional do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças no Paraná (IBEF-PR), onde lembrou “a importância de se ter funcionários talentosos para estes tempos difíceis”.
Poracky prescreveu cinco grandes práticas que envolvem funcionários e são chaves para enfrentar a crise: avaliar e desenvolver talentos apropriadamente; planejar efetivamente a mão-de-obra, criar grupos inovadores de funcionários, melhorar o balanço trabalho/vida pessoal do funcionário (“não é preciso se matar de tanto trabalhar”) e criar programas de reconhecimento do desempenho.
Segundo ele, apesar do desemprego em taxas alarmantes e de uma quantidade cada vez maior de candidatos a vagas de executivos, “continua sendo um grande desafio contratar pessoas talentosas e habilidosas e a verdade é que, segundo as pesquisas, o desemprego não melhorou a oferta deste tipo de indivíduo”.
Por isso, uma de suas grandes preocupações é com o envelhecimento da atual geração, nascida na época do “baby boom” nos Estados Unidos, e com o grande movimento de aposentadorias precoces ocorrido nos últimos anos. “Hoje talvez seja mais importante criar mecanismos para atrair ou manter estes executivos mais velhos do que contratar novos”, diz.
Segundo ele, nos anos de 1950 havia nos Estados Unidos sete pessoas trabalhando para cada aposentado. Hoje, espera-se para 2030 que existam três pessoas trabalhando para cada aposentado. “As universidades do país não conseguirão repor este número de pessoas que saem. Então é preciso mudar as leis da previdência social para que a opção da aposentadoria seja mais difícil”, afirma. “Hoje as pessoas pensam ‘estou ganhando bastante dinheiro na empresa, mas se me aposentar também vou ganhar bastante dinheiro’. Então se aposentam”, diz. Segundo ele, mais de 25% da população trabalhadora vão chegar à idade de aposentadoria em 2010 e, em 2030, 20% da população terão mais de 65 anos.
Para ele, a crise não irá mudar o perfil dos ocupantes de cargos de direção. “Não são necessariamente novas habilidades as que importam, mas sim a habilidade do executivo sênior em enfrentar a situação e saber o que ele deve fazer para que sua organização seja bem-sucedida. Isso realmente é a chave”, explica Poracky. O consultor diz também que o principal executivo precisa ser um líder que consiga comunicar a direção que deseja dar à organização e fazer com que as pessoas “comprem” essa ideia, para assim conseguir que essa estratégia seja seguida. “Todo este processo precisa ser muito transparente”, argumenta.
John Poracky sabe bem do que fala porque, além da AIMS, é sócio diretor da MCWood e foi um dos fundadores do Douth Lake National Bank, onde trabalhou como vice-presidente. Também atuou como consultor sênior no Bank of America e na Deloitte Touche Tohmatsu. “Recessões houve muitas nos últimos cem anos, e a diferença desta é que muitos dos jovens empresários nunca passaram por ela e pensam que é o fim do mundo. Mas essa não é a realidade. É apenas o custo de se fazer negócios. Nesse caso, por não haver um controle, o que nos levou à crise atual, são lições que os executivos e os governos precisam aprender, para evitar que aconteça novamente”, explica.
Fonte: Financial Web