BC reduz Selic a 9,25%, menor patamar em 4 anos
O Banco Central cortou ontem à noite, dia 26, a taxa básica de juros em 1 ponto percentual, a 9,25% ao ano, mantendo o ritmo de afrouxamento da Selic diante do comportamento favorável da inflação e dos fracos sinais de recuperação econômica, e sugerindo que poderá repetir a dose daqui para frente.
A autoridade monetária continuou indicando que a crise política é ainda um fator que merece atenção, mas abrandou sua avaliação sobre a interferência exercida na condução da atual política monetária, ao afirmar que o impacto da recente queda da confiança na atividade tem sido limitado. E acrescentou:
“Para a próxima reunião (em setembro), a manutenção deste ritmo dependerá da permanência das condições descritas no cenário básico do Copom e de estimativas da extensão do ciclo”.
“O ritmo de flexibilização continuará dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos, de possíveis reavaliações da estimativa da extensão do ciclo e das projeções e expectativas de inflação”, completou em comunicado.
O BC também diminuiu a projeção de inflação pelo cenário de mercado para em torno de 3,6% em 2017, ante 3,8% em sua última estimativa, feita em junho no relatório trimestral de inflação. Para 2018, a perspectiva de alta do IPCA caiu a 4,3%, contra 4,5% antes.
Em pesquisa Reuters, 33 de 36 analistas consultados previam um corte desta magnitude. Este foi o sétimo corte seguido na Selic, levando a taxa ao nível mais baixo desde agosto de 2013 (9%). No atual ciclo, o BC reduziu a Selic em 0,25 ponto percentual por duas vezes, seguidas por outras duas de 0,75 ponto e duas de 1 ponto.
“O recente aumento de incerteza quanto ao ritmo de implementação de reformas e ajustes na economia impactou negativamente índices de confiança dos agentes econômicos. No entanto, a informação disponível sugere que o impacto dessa queda de confiança na atividade tem sido, até o momento, limitado”, trouxe o Copom.
Diante desse cenário, especialistas acreditam que o BC pavimentou o caminho para novo corte de 1 ponto no seu próximo encontro.
“As condições econômicas vão continuar e com inflação muito baixa. Mais que isso, assumindo que (o presidente Michel) Temer consiga ter controle do Congresso, eu acho que a taxa de juros estrutural pode melhorar um pouco”, afirmou o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, que prevê a Selic em 7,5% ao fim do ano.
Em maio, na reunião anterior, o BC chegou a dizer que uma desaceleração do ritmo de corte seria adequada agora em julho em função do cenário com mais incertezas, após delações de executivos da JBS colocarem em xeque o mandato de Temer.
O temor era de que o ambiente conturbado travasse o andamento de reformas consideradas essenciais para a retomada do reequilíbrio nas contas públicas, como a da Previdência, que segue estacionada na Câmara dos Deputados.
Mas o BC argumentou que a manutenção das condições econômicas, até este momento, a despeito das incertezas sobre as reformas, permitiu a manutenção do ritmo de flexibilização nesta reunião.
Ainda sobre o cenário político conturbado, o BC afirmou no comunicado de agora que “os efeitos de curto prazo do aumento de incerteza quanto ao ritmo de implementação de reformas e ajustes na economia não se mostram inflacionários nem desinflacionários”, repetindo comentários recentes feitos pelo presidente da autoridade monetária, Ilan Goldfajn.
O BC também apontou que o comportamento da inflação permanece favorável e com desinflação difundida. O IPCA-15, prévia da inflação oficial, foi abaixo do piso da meta de inflação em julho, no acumulado em 12 meses, abrindo ainda mais o espaço para cortes mais intensos na Selic. A meta neste ano é de 4,5% pelo IPCA, com banda de tolerância de 1,5 ponto para mais ou para menos.
Na pesquisa Focus mais recente, economistas estimaram avanço de 3,33% para o IPCA neste ano.
Para o economista-chefe do banco Fator, José Francisco Gonçalves, destacou-se ainda no comunicado do Copom a citação da importância do processo de ajuste creditício, numa sinalização da criação da Taxa de Longo Prazo (TLP), que substituirá a TJLP nos empréstimos do BNDES e, assim, reduzirá o peso dos juros subsidiados, ajudando a dar mais potência à política monetária.
“Essa queda-de-braço já foi ganha (criação da TLP)” afirmou ele, para quem o BC deve continuar reduzindo a Selic a 8 por cento até outubro. “Se não for 8%, será menos”, acrescentou ele.