É preciso intervir e admitir o problema
“As autoridades estão em intensa atividade, mas os problemas continuam. O que está havendo? Falta o primeiro passo”, comenta Miriam Leitão.
A rotina que não muda é a desconfiança que ronda a economia mundial. Todo dia, tem anúncio de alguma novidade nos Estados Unidos: pacote, números que saem e autoridades que falam. Mas o problema persiste.
O governo americano anuncia hoje o novo orçamento. O presidente do FED, Banco Central americano, Ben Bernanke, foi duas vezes ao Congresso nos últimos dias explicar o plano de resgate aos bancos. O presidente Barack Obama falou no Congresso.
As autoridades estão em intensa atividade, mas os problemas continuam. O que está havendo? Falta o primeiro passo. É preciso voltar a confiar nos bancos, e eles têm que emprestar de novo.
No plano do Tesouro, para resolver o problema dos bancos, os 20 maiores bancos teriam que passar por testes de estresse. Seria assim: auditores analisariam a relação de ativos e passivos dos bancos e projetariam o que aconteceria com esse balanço, caso a situação piorasse. Ora, a situação precisa piorar? Não precisa. Hoje, todos sabem que há desequilíbrio, porque parte dos papéis que eles têm em carteira não têm valor. São os papéis podres.
Segundo Bernanke, depois dos testes de estresse, os bancos poderão receber capital privado. Ora, eles sempre puderam receber capital privado, mas não há investidor interessado em comprar ações dos bancos. É por isso que uma ação do Citibank, que custava US$ 60 , hoje custa US$ 2.
Crises bancárias já aconteceram em vários países. Nos anos 90, o Brasil, o Japão e a Suécia enfrentaram crises bancárias. O que esses casos ensinam é que é quanto mais rápido o governo agir e mais objetivas forem as regras de intervenção, mais rapidamente se sai da crise.
O Brasil fez um bom trabalho. A Suécia foi o melhor caso. O Japão, o pior. Os japoneses demoraram muito a admitir o problema e a sanear os bancos, e isso arrastou o país para uma década de recessão.
Nos Estados Unidos, eles estão usando a expressão bancos zumbis, bancos mortos-vivos. Essa situação intermediária é que não pode continuar.
Ninguém sabe o valor desses papéis podres. Enquanto não se souber quanto eles valem, nenhum investidor vai querer comprar e nem o banco podre vai querer ficar com ele. Eles são prisioneiros dessa armadilha. O plano que eles bolaram não faz muito sentido. Eles têm que ir para um outro caminho. Eles têm que vender a parte boa.
A dificuldade do governo americano é a seguinte: quando a gente enfrentou a nossa crise bancária aqui, a gente tinha alguns bancos sólidos que foram os apoios do Banco Central. Aí o BC vendeu o banco bom para esses outros bancos que estavam segurando o sistema. Lá, são os grandes bancos que estão com dificuldade. Então, quem é que vai segurar a situação lá?
O primeiro passo é que se tem que intervir nos bancos. Não tem outra saída. É preciso intervir e admitir o problema. O Japão perdeu dez anos, porque ele demorou a admitir o problema.
Fonte: Bom dia Brasil / Miriam Leitão