Alexandre Garcia: Brasil é uma zona franca de armas
“Os bandidos espreitam, esperam, examinam e muitas vezes dão preferência a unidades militares de saúde, que são menos guardadas”, comenta o colunista.
O Brasil é uma grande zona franca de armas de todos os calibres, e grande parte delas vai parar nas mãos dos bandidos. Na campanha pelo desarmamento, as autoridades usavam o argumento de que armas nas casas dos cidadãos eram repositório para os bandidos se servirem. Agora é a vez de as autoridades tomarem seus próprios cuidados, porque têm sido fonte de abastecimento dos bandidos.
Ou eles infiltram recrutas em unidades militares, ameaçam as famílias deles e o roubo é feito aos poucos de armas e munição; ou realizam ataques como o que aconteceu no Batalhão de Infantaria de Caçapava, aproveitando-se do relaxamento da guarda na noite de um domingo para segunda-feira.
Os bandidos espreitam, esperam, examinam e muitas vezes dão preferência a unidades militares de saúde, que são menos guardadas. Do Hospital da Aeronáutica do Galeão, por exemplo, levaram armas e fugiram de Kombi.
Os generais dizem que falta o que chamam de “ação de comando”, uma atitude que deve ser transmitida aos comandados para terem noção da importância da guarda das armas. Tudo isso não aconteceu no Centro de Tiro de Ribeirão Pires, em São Paulo, onde as armas estavam mal-protegidas.
Além disso, falta reconhecer que há uma guerra. A média diária de assassinatos no Brasil é de 137. Alguém me diga se há alguma guerra no mundo a produzir tantas mortes. E quando bandidos substituíram o revólver pelo fuzil, vieram as balas perdidas a matar a esmo.
Por enquanto, são só armas leves – sim, o fuzil é arma leve. Armas leves são aquelas que um homem pode carregar. Mas já apareceu no morro uma metralhadora Browning ponto 50, calibre de meia polegada, arma pesada, automática que pode furar blindagem e que pode abater helicóptero ou avião.
Já se encontrou em São Paulo reparo de lançador de foguetes para atacar o muro de um presídio. O estado, que detém o monopólio da reação, parece não se dar conta que o outro lado já declarou guerra e está equipando seus arsenais.
É preciso uma lei agrária especializada
A lei não tem impedido as invasões e não vai impedir. Quando ameaçaram invadir terras do Exército, foram postos tanques na área e a invasão foi desestimulada.
Isso tudo é apenas um grande absurdo. O governo as trata como movimento social, embora ajam fora da lei. Mas o movimento social deixa de existir quando tem que responder civil ou penalmente.
Anacrônica, prega agricultura familiar contra o agronegócio, invade e depreda o Ministério da Agricultura com máscaras inspiradas no Exército zapatista de Chiapas, no México, e têm tratamento diferente ao que seria dado a um contribuinte que quebrasse algum computador da Receita. Não é de lei que se precisa, mas de atitude.
Fonte:Globo.com